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Sarau O que dizem os umbigos |
Por Luka Magalhães.
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Sarau Casa do Chefe |
Lembro-me da época em que jogávamos bola nas ruas e de
quando nos reuníamos para limpar algum terreno baldio e ali fazer nosso
campinho de futebol, mesmo que só disputássemos nossas partidas somente no
final de semana em que o limpávamos. Ou o entulho era novamente posto nos
terrenos ou voltávamos para as ruas de terra, melhor lugar onde nosso “estádio”
poderia ter mais do que os costumeiros vinte e cinco metros de extensão,
tamanho padrão dos lotes de outrora. Hoje não vemos mais os garotos se
mobilizando para tais ações, pois não existem mais terrenos vazios que não
estejam murados e são poucas as ruas em que ainda seja possível uma partida de
futebol com pés descalços.
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Coletivo 32 |
O que me fez lembrar dessa época foi um evento marcado para
esse final de semana (24 e 25 de maio) em Jandira, cidade da Grande São Paulo,
principalmente por me trazer à lembrança o fato de se ter um objetivo simples
nas ações propostas para esse evento, tal o grupo de crianças limpando u
terreno baldio. O Coletivo 32, marcou a ocupação de uma área entulhada para
realizar a limpeza e ali criar uma praça popular eco sustentável para a
realização de eventos culturais. Alguns poderiam dizer que é um evento simples
e sem importância, mas não foi assim que enxerguei o ato. Vi cidadania,
envolvimento da população local, engajamento pró-cultura e “manifestação” sobre
a ausência do poder público, que se fez de cego ao espaço abandonado.
São atos como esse que mostram o quanto as manifestações
culturais podem revitalizar e fortalecer uma região, mostrando que é possível
se fazer cultura sem depender dos governos, que cultura pode se sustentar pela
vontade de um grupo que acredita nisso. São os alicerces populares que mantém a
cultura não midiática em pé. São pessoas simples, cidadãos anônimos que não
aparecem nos holofotes das televisões, que
realmente fazem a cultura se
enraizar em cada canto do país.
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Coletivo 32 |
Na capital paulista temos várias ações semelhantes acontecendo.
No Parque Raul Seixas (COHAB José Bonifácio, em Itaquera) parte da
administração foi ocupada para a criação do espaço cultural. No centro do
bairro, da antiga estação de trem só restou a “casa do chefe”, moradia cedida
pela empresa ferroviária para o responsável pela estação, que está sediando o
“Sarau da Casa do Chefe” e o grupo que organiza o evento luta para que seja
criada a “Casa da Memória” do bairro.
No Itaim paulista, nossos irmãos do “Sarau O que dizem os
umbigos” realizam seus eventos em diversos locais abertos, levando sua alegria
para os frequentadores desses espaços.
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Coletivo 32 |
A nossa Casa Amarela é outro exemplo de como se perpetuar
cultura sem verba pública. Ali são promovidos os saraus mensais, o
“Blá-blá-blá”, roda de conversas sobre a produção cultural e outros eventos,
sempre com a parceria do IPEDESH (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
Social e Humano). Ainda temos a investida da Casa no lançamento de CDs e livros
de artistas populares, fazendo com que essa produção artística possa ser perpetuada.
Todas essas ações são feitas pela força de vontade dos
grupos que tem consciência de que é possível fazer e perpetuar cultura sem
depender do poder público.
Parafraseio então Geraldo Vandré:
Vem vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora,
Não espera acontecer
Luka Magalhães é analista de sistemas e nas horas vagas
escreve poesia, contos e peças teatrais. Ministra a palestra “Eu nas relações
interpessoais”, que trata do comportamento individual em situações cotidianas.
Administra a página Eu Recomendo, no Facebook , que divulga os eventos
culturais que acontecem principalmente na Zona Leste de São Paulo, e também os
artistas populares que circulam pelo país.
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