Por Rômulo Reis Cesco.
Ele estava atrasado, não gostava de se atrasar, metódico
como era, estar atrasado e ao mesmo tempo sorridente era algo raro. Estava
andando rapidamente sob o sol paulistano. No seu pensamento, um beco sem saída,
muitas palavras amontoadas sobre apenas um só propósito, um nome, o dela. Ou
delas. Nunca soube como dizer, como identificar, como viver o momento. Pensava
no futuro, planejava seus passos, mas ao tentar executar, sua reação era
diferente, seus olhos o denunciavam. Botou seus óculos escuros.
Passava andando, sorrindo por entre os transeuntes
apressados, que com toda a certeza estavam se preocupando com coisas
irrelevantes, como trabalho, dinheiro, aluguel... Ele pensa consigo como o
mundo é mesquinho e ninguém mais se importa em ver o outro sorrir... Vinícius
doa uma moeda pro mendigo e troca algumas palavras, de atitude nobre e sem
peso, o garoto bem arrumado dá um abraço no morador da casa dos carros. Sai
sorrindo e vai em direção ao parque central, uma exposição tem início no outro
lado da rua, bandeiras, cavaletes, estilos variados, pessoas novas, novos
rostos, novas histórias.
Adentrou, olhou pro lado - olhou pro outro e viu bancos -,
sentou, fumou um cigarro esperando a ligação, pra dizer onde estava pra talvez
a musa de uma nova canção. Esperou, atendeu a esperada ligação, falou e
relaxou, esperou.
Ela chegou, ele sorriu, ela enrubesceu. Ele pensava o quão
linda ela era. Como qualquer roupa se encaixa, qualquer gesto se faz próprio,
qualquer brincadeira, quaisquer que fossem os atos, desmedidos ou não, cabiam
nela como peças de quebra-cabeça. Se sentia encantado pela beleza despreocupada
que ela possuía, ele se jogava no mundão só pra ver aquele olhar e chamar ela
de "cabeção" enquanto resistia à todos os impulsos que lhe tomavam.
"Deixa ela falar,deixa eu olhar, me deixa admirar", pensava consigo
mesmo ao lutar consigo mesmo...
O sol estava no seu ponto mais alto, conversaram, riram e
beijaram-se, como de praxe, decidiram ir a outro parque, cansaram, ela
reclamava de tudo, contava de tudo, mente aberta mas extremamente fechada,
um contraponto interessante, equilibrado, encantador. Ele passa demorados
momentos a estudar as expressões dessa garota, em suma, interessante.
Enfim chegam ao parque, deitam na grama, a grama causa
coceira, ele está sem camisa em razão do calor infernal que se instalou na
capital, ela está tentando derrubá-lo a cada tentativa que ele faz pra se
levantar...
Ele repara em tudo nela pois não pode deixar escapar nada,
precisa guardar cada gota desses momentos que a vida proporciona, pois em
verdade vale a pena...
Patos a encantam e ele se encanta por tal encanto... Ele vê
a chama do amor arder onde existia uma fortaleza de gelo; poderia ficar horas
admirando aquela energia positiva que ela exalava, era como um perfume cheio de
nuances, ela é uma nuance ambulante. Encantadora nuance de pequenos humores,
pequenos rumores, grandes olhares, deslumbrantes gestos e um andar de tirar o
fôlego. Sorri pro horizonte pensando como o mundo é pequeno e as pessoas ás
vezes não percebem os diamantes que têm nas mãos...
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