Escrevi esse artigo a partir da entrevista da escritora
Camille Paglia, publicada pela Revista Veja desta semana. Para ela, o feminismo
sufocou os homens e as mulheres acabaram se arrependendo disso. Você concorda?
Leia minha opinião.
A escritora norte-americana Camille Paglia, afirma em sua
entrevista à Revista Veja (leia a entrevista completa clicando aqui) que o feminismo acabou sufocando os homens e que as
mulheres acabaram lamentando-se das suas próprias conquistas, ao ver que esse
“novo homem” não é exatamente aquele que elas desejavam.
Como um homem que se vê hoje “no outro lado do balcão”,
apoiando a carreira profissional da minha esposa, separei algumas frases da
entrevista dela que eu gostaria de comentar, a partir dessa que aparece na foto
principal da matéria.
É verdade que as conquistas
obtidas pelas mulheres a partir da onda feminista dos anos 60 cobram hoje o seu
preço. A sociedade moderna espera que além de realizadas profissionalmente,
elas sejam boas mães, eficientes no cuidado com a casa e de preferência e ainda
sejam atraentes para seus maridos. Não é pouca coisa. É normal que, com tanta
cobrança, a maior parte das mulheres sinta-se frustrada. Mas será que o
problema está na postura das mulheres?
O feminismo acabou impondo uma imagem de que, para ser
feliz, a mulher precisa ser rica e poderosa. Pelo menos, esse é o estereótipo
que colou na cabeça das pessoas. Quando lancei meu livro “Macho do Século XXI”,
achei muito interessante o comentário de uma jovem blogueira em relação a ele.
Ela escreveu o seguinte: “Mas quem eu queria conhecer mesmo era a mulher dele.
Logo imaginei a Miranda Presley, do filme O diabo veste Prada. Fiquei boba
de ver que ela tem uma imagem tão comum quanto todas nós”, foi o comentário da
moça.
A maioria não almeja ser rica e poderosa. Elas são apenas
mulheres “comuns”, como minha esposa. Continuam querendo casar, ter filhos,
família. E uma carreira profissional. A grande mudança reside no fato de que
hoje elas esperam que os homens compreendam uma nova realidade que elas
conquistaram com sacrifício, que é a de exercer um papel mais igual em relação
aos homens. E isso, muitos deles ainda não entendem. Até aceitam uma mulher que
pague a metade da conta do jantar, mas preferem mulheres menos independentes. E
também não querem dividir com elas a responsabilidade de tarefas supostamente
“femininas”. Aí fica difícil mesmo.
A escritora afirma também que as mulheres vivem um conflito
de papéis sem solução. Reproduzo abaixo um dos trechos da entrevista:
Tantos anos de pós-feminismo e as mulheres parecem continuar
a viver em conflito diante de seus diversos papéis. Há solução à vista?
Não. É um dilema terrível quando as mulheres aspiram a ter
filhos e carreira. E é um dilema que não afeta os homens. Não por uma questão
de discriminação da sociedade, mas simplesmente porque a natureza escolheu
deixar o enorme fardo da gravidez para as mulheres. Vemos nos tempos modernos
uma evolução da antiga família ampliada, da grande família tribal, em que
diferentes gerações viviam juntas, rumo ao modelo em que as pessoas vivem
isoladas em famílias nucleares, seja mãe, pai e filho, seja mãe divorciada e
filho ou mãe solteira e filho. Isso põe as mulheres sob enorme pressão para
fazer coisas que antigamente eram feitas pelas parentes. (...) Hoje, quanto
mais bem-sucedida a mulher, mais distante ela está desse modelo comunal. Ela
vive louca atrás de babá, empregada, enfermeira. Consequentemente, sofre um
nível de intensidade nervosa e de exaustão sem precedentes na história.
Discordo que não exista solução. Isso não significa que a
partir de hoje todos os homens devem virar donos de casa. Mas acredito que um
casal pode buscar o entendimento mútuo, buscando o equilíbrio nas tarefas de
cada um, sem papéis predefinidos. A jornalista Mara Luquet já definiu bem essa
situação: “Não é preciso casar para nada – você não precisa casar para ter
filhos, ter uma vida sexual ativa e nem mesmo para envelhecer (para isso
existem os planos de previdência e a profissão de cuidadores). Então, a única
razão para alguém se dar o trabalho de encarar esse enorme desafio de ter uma
vida em conjunto é de fato o desejo de ter um projeto em comum, com alguém que
amamos”. Acho que é bem por aí mesmo.
Outra frase da entrevista talvez ficasse melhor na boca de
um homem sentado num bar tomando cerveja com os amigos do que na boca de uma
mulher. “Todas as mulheres querem ser a Carrie, de Sex and the City. Não
acho nada estranho que tantos rapazes bonitos e inteligentes não queiram se
casar ou sejam gays. O máximo que uma mulher jovem e bem colocada na carreira
tem a oferecer é uma instigante conversa sobre trabalho ou um empolgante almoço
de negócios. É um tédio conversar com elas”, afirmou a escritora.
Quase caí da cadeira quando li isso. Quanto preconceito,
moça. Pensar que as mulheres abriram mão de seu papel feminino e ficaram menos
interessantes porque passaram a ocupar posições de destaque na sociedade é tão
pobre quanto achar que lugar de mulher é na cozinha. Acho que não foi para isso
que as mulheres queimaram seus sutiãs em praça pública no final da década de
60. Mas esse tipo de pensamento revela, acima de tudo, que ainda existe um
longo caminho a ser percorrido pelas mulheres para serem tratadas com igualdade
pela sociedade.
Claudio Henrique dos Santos é jornalista formado pela Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, em São Paulo. Desenvolveu a maior parte da sua carreira profissional nas áreas de de Comunicação Corporativa e de Relações Institucionais, principalmente na indústria automobilística. Em 2010 foi morar em Cingapura, acompanhando um convite profissional recebido por sua esposa. Desde então, é sua principal atividade é cuidar da casa e da filha, e dar em casa o suporte que a família necessita. Escreve às terças-feiras a coluna Macho do século 21, no blog da editora Nova Alexandria.
Leia o episódio desta semana de DR. MONSTRO: Há monstruosidades do bem?
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