Por Plínio de Mesquita Camargo.
Em 1923, Campinas pareceu que seria a Hollywood brasileira;
culpa de Amilar Alves, intelectual e dramaturgo ‘oficial’ da cidade, que
resolveu transformar sua peça João da
Mata em filme, e fez sucesso até no Rio de Janeiro.
“E.
C. Kerrigan, americano, diretor, ex-Paramount”, apresentou-se um elegante
senhor recém-chegado a Campinas, e bem depressa arranjou quem produzisse Sofrer para gozar, um faroeste de amor. Deu
certo (isto é, encheu as salas da região), e ele já iniciava seu segundo filme
campineiro quando alguém teve a ideia de apresentar-lhe um turista americano, e
se descobriu que, da língua de D. W. Griffith, Mr. Kerrigan sabia pouco mais
que gudibái. Campinas, então, disse-lhe: Good
bye.
Mas, ali mesmo em São Paulo, Adalberto de Almada Fagundes,
fabricante de louça, estava construindo uma fábrica de filmes, e nessa porta E.
C. K. foi bater. Fagundes abriu e, tendo escrito o roteiro de Quando elas querem, drama romântico,
deu-o para Kerrigan dirigir. Fracasso retumbante, o filme (de 1925) fez
Fagundes voltar a pensar só em louças.
E.
C. K., esse logo estava em Minas, Três Corações, tratando de convencer os
irmãos Masotti, bem sucedidos produtores de documentários, a produzir filmes de
ficção. Fizeram Corações em suplício,
outro drama romântico, outro fracasso. Kerrigan (que, além de dirigir, atuou no
filme sob o pseudônimo William Gouthier) não ficou em Minas por tempo bastante
para ver a falência de Américo e Carlos Masotti; partiu antes para o Rio Grande
do Sul.
Em Porto Alegre, E. C. K. logo achou quem produzisse Joia do bem, que nunca ficou pronto, e Amor que redime, cópia descarada de um
filme americano, que passou em 1927 e deve ter dado dinheiro, já que os mesmos
produtores bancaram Revelação, história
de amor e crime filmada em 1929.
Em 1930 os jornais de Curitiba avisavam: Esse E. C.
Kerrigan, que abriu uma tal Academia Cinematographica Paranaense, não é pessoa
em que se possa confiar. E. C. Kerrigan, então, sumiu do mapa do cinema brasileiro,
como muita gente sumiu quando os filmes ganharam som.
Gilberto Rossi, pioneiro ítalo-paulista do cinema, ria muito
quando lhe falavam de E. C. Kerrigan. Lembrava-se do Conde Eugenio Maria
Piglione Rossiglione de Farnet, que, um dia nos anos 1920, aparecera em seu
estúdio, muito elegante e cheio de planos cinematográficos. Rossi o dispensou.
Em 1956, morreu em Porto Alegre o Sr. Eugenio Centenaro, ou
Conde Eugenio Maria Piglione Rossiglione de Farnet, ou William Gouthier, ou E.
C. Kerrigan, conhecido por, entre outros feitos, ter-se passado por adivinho
hindu e ter-se envolvido no tráfico de mulheres.
Plínio de Mesquita Camargo é cineclubista, poeta e trabalha hoje na Biblioteca Paineiras, do Centro Cultural Vladimir Herzog, de Diadema. Da geração 70 e 80 de poetas undergrounds de São Paulo, publico em mimeógrafo e xerox. Pela Edita Plêiade, publicou em 2012 o volume de poemas Folhas Ta(o)ntas. Pela editora Nova Alexandria escreveu Breve história do cinema brasileiro, no prelo. Escreve a coluna Cineme-se no blog a editora Nova Alexandria a coluna, e passa a assiná-la todas as quartas-feiras.
11 Histórias de Futebol. Neste livro, a maior paixão esportivados brasileiros é vista pelo olhar de 11 grandes escritores contemporâneos denossa literatura, numa rara combinação entre campo de futebol e campoliterário. Mesmo quem não é tão fã do esporte das multidões encontrará aquimotivo para vibrar com as decepções e glórias dos personagens tangidos pelojogo da vida. Traduzido para o alemão para esta copa de 2014, o livro, com onome Samba Goal, já ganhou a Europa e o coração do leitor germano.
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