Por Manoel Gonçalves (Manogon).
Era uma noite paulistana quase comum. Uma sexta qualquer,
uma noite qualquer, depois de um expediente comum a todos os outros dias. Afinal,
tudo seguia na mesma. A cidade virou um caos com o quase inerte trânsito
costumeiro. Os ônibus circulando abarrotados, o que diminuía as chances de uma
viagem tranquila, mesmo com a facilidade da faixa exclusiva. Metrô e trem
lotados. Euforia para se preparar para as baladas. Sampa na correria de sempre.
Mas, naquela sexta, 19 de setembro, porém, as coisas eram um pouco diferentes. No
meio do caminho havia uma casa, uma Casa Amarela.
O evento, batizado temporariamente (ou não, como diria
Caetano) como “Sextas Cênicas”, vinha sendo costurado há algum tempo, em
conversas de boteco entre Akira Yamasaki, Sueli Kimura, Escobar Franelas, Luka
Magalhães e eu, Manogon. Entre bons goles de café (diria garrafas), biscoitos e
viagens mil, decidimos colocar à prova a proposta. Como pontapé inicial, em
busca de um formato adequado à Casa e viável aos visitantes/frequentadores,
diretamente do baú literário de Luka Magalhães, foi marcada a leitura cênica do
monólogo “Ascensão, Apogeu e Queda de um Homem Qualquer”.
Expectativa e ansiedade, comuns a toda estreia. O público
compareceu, embora maior na qualidade que na quantidade, devido a uma série de
outros eventos e as dificuldades rotineiras da cidade e adequação de agendas.
Papo costumeiro entre os presentes, com direito a café feito pela Sueli, torta
de Luka e biscoitos providenciados pelo Escobar. Tudo pronto! Mas antes da leitura
da peça, que era o prato principal, um aperitivo: uma performance feita por mim
para a canção de Antônio Marcos, Sonho de um Palhaço. A esquete montada foi uma
mistura, com pitadas de musical, interpretação e pantomimas, explorando o drama
relatado na música. Sete minutos que ajudaram a preparar o clima para a entrada
marcante de convidado especial.
Luka Magalhães subiu ao tablado e com mestria começou a
expor a beleza de seu texto. Nas palavras de Escobar, um “texto denso, irônico,
de sublimação”. A interpretação empregada por Luka para a leitura do monólogo
ajudou o público a entrar na história desse homem qualquer. Dividido em três
tempos bem definidos, as agruras e satisfações da personagem em sua obsessão de
Querer, Ter e Perder, uma busca constante de superação das angústias e sede por
vingança por quem o fez sofrer. Mas seria isso mesmo? Seria essa a sua vontade?
Um personagem completo e complexo, o que nos fez imaginar e desejar uma
montagem digna e com tudo a que tem direito, para um tempo e espaço não
distantes.
Após as apresentações aconteceu, com muita descontração, um
bate-papo sobre o entendimento do público, as percepções sobre o evento, o
desejo que essa iniciativa se repita, ao menos uma vez por mês, numa sexta
pré-determinada e também sobre projetos que envolvam as artes cênicas.
O que se pode colher do público é que eventos como esse
serão bem-vindos, que a Casa Amarela cumpre com seu papel de fomentar a
efervescência artística, que outros textos podem ser lidos, outras cenas devem
ser exploradas e outros artistas têm de ser convidados a mostrar sua arte no
tablado ou cômodos da Casa Amarela.
Enfim, ficou (e oxalá sempre fique) um gostinho de quero
mais...
Aguardem e acompanhem!
Enquanto isso, dia 27 de setembro, sábado, tem mais um
BláBláBlá, com outras abordagens sobre o tema Literatura Marginal.
E dia 11 de outubro, domingo, mais uma edição do Sarau da
Casa Amarela.
Compareçam para prestigiar e levem sua arte.
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