Aluno da ETEC Basilides de Godoy
Lapa, São Paulo
A propósito da nova edição que o grupo Nova Alexandria, pela editora Claridade, prepara para o best seller da década
de 1930 Horizonte perdido (Lost Horizon)
de James Hilton, entrevistei um jovem leitor a quem foi dada a tarefa, ou o
prazer, de ler o romance. Trata-se de Ulisses Azevedo Gonçalves, de 14 anos de idade, primeiranista da ETEC Basilides de Godoy, na Lapa, em São Paulo, mais conhecido como meu filho.
Em que pese a pouca idade, Uli tem já uma larga
experiência de leitura, uma vez que deu a sorte, ou o azar, de ser filho de uma
professora de língua portuguesa (mestre em literaturas africanas pela USP) e de um
também professor de língua portuguesa (doutor nas mesmas literaturas e na mesma Universidade), escritor
por insistência – e às vezes por penitência.
Desde o útero, Uli ouviu histórias clássicas da literatura infantil. Quando aprendeu a ler, foi montando sua própria biblioteca. Segue a entrevista:
Desde o útero, Uli ouviu histórias clássicas da literatura infantil. Quando aprendeu a ler, foi montando sua própria biblioteca. Segue a entrevista:
Jeosafá (Jeosa): Qual foi sua primeira impressão
iniciar a leitura do livro?
Ulisses (Uli): Fiquei um pouco confuso, pois do Prólogo
ao primeiro capítulo há uma mudança de narrador. No prólogo amigos conversam
entre si sobre Conway. O narrador é um, talvez o próprio autor, James Hilton.
No primeiro capítulo, já estamos dentro da história de Conway. O narrador passa
a ser, descubro voltando várias vezes a leitura, e caminhando adiante nela, que
é Rutherford, um dos amigos que conversam sobre Conway no Prólogo.
Jeosa: Isso se chama “narrativa” moldura: uma narrativa inicial, curta, que introduz o
enredo principal, e uma final, também curta, que encerra. É como se fossem
parênteses: a história principal ocorre entre as duas.
Uli: É, percebi.
Jeosa: Que diferenças encontrou em relação aos livros que já leu?
Nova edição de Horizonte Perdido.
Jeosa: Que diferenças encontrou em relação aos livros que já leu?
Uli: O tema é mais maduro. O livro não tem tantas
aventuras, o narrador se detém nas conversas entre as personagens, detalha os
cenários, as ideias, os pensamentos com paciência.
Jeosa: O tema mais maduro ofereceu dificuldade?
Uli: No começo, fiquei um pouco resistente, mas
depois que entendi a passagem do Prólogo ao primeiro capítulo, passei a gostar.
O enredo traz surpresas, e embora o tema seja mais maduro, a linguagem não tem
maiores complicações.
Jeosa: O romance apresenta situações inusitadas. Há
algum fato ou situação que você gostou em particular?
Uli: Fiquei surpreso e gostei quando Mallinson acha
por acaso a carteira de Barnard e descobre que ele é outra pessoa, na realidade
um estelionatário procurado internacionalmente por fraude milionária. Gostei
bastante também quando Mallinson põe em dúvida a certeza de Conway, que acredita
totalmente no que lhe disse Chang e o Lama Superior. Outra passagem que me
surpreendeu foi quando Conway descobre que o Lama Superior é, na verdade, o mesmo
padre Perraut, o belga que fundou o mosteiro de Sangri-La em meados de 1700, e que tem, portanto, quase
200 anos de idade. Voltei várias vezes a leitura páginas antes para me
certificar.
Jeosa: Algum cenário descrito marcou?
Uli: A descrição do monte Karakal é muito bonita,
do mosteiro, também as piscinas de
lótus.
Lost Horizon, 1937.
Direção: Frank Capra. Roteiro: do próprio James Hilton.
Jeosa: Além de Conway, algum outro personagem o atraiu?
Uli: Barnard.
Jeosa: Conseguiu acompanhar a trajetória no espaço
de Conway e dos outros sequestrados que vão parar no vale da Lua?
Uli: Sim. O avião parte de Peshawar, na índia (hoje
Pasquistão) e vai parar no platô
tibetano, na China após cruzar a própria cordilheira do Himalaia.
Jeosa: Você percebeu a luta entre valores que se
expressa no romance?
Uli: Sim. Conway quer abandonar o mundo agidato em
que vive, e ficar em Shangri-La, onde tudo é mais calmo. Dos outros sequestrados,
o único que acaba querendo voltar à “civilização” é Mallinson. Os outros, mesmo
Barnard, que pensou em roubar o ouro que encontrou no vale da Lua, refaz suas
ideias e decide ficar em Sangri-La.
Jeosa: Quando a narrativa principal terminou e a
outra parte da “moldura”, o último capítulo, reintroduziu Rutherfor, sentiu a
mesma dificuldade de quando começou a leitura?
Uli: Não. Quando reapareceu Rutherford, já estava
preparado, e o que ele disse no início se encaixou com o que disse no fim.
Jeosa: Quem é Conway?
Uli: Uma pessoa procurando motivação para viver.
Jeosa: Qual o período abrange as aventuras de
Conway?
Uli: Entre a 1ª. e a 2ª. Guerra, por volta de 1930.
Jeosa: Que mensagem há no livro?
Uli: É um alerta às pessoas, para que as guerras
sejam evitadas.
Jeosa: O que o atraiu no livro?
Uli: As discussões filosóficas. As personagens
estão sempre pensando e discutindo suas ideias.
Jeosa: Gostou do livro?
Uli: Gostei.
Ulisses Azevedo Gonçalves, 14 anos, é estudante da ETEC Basilides de Godoy. Praticou por dois anos e meio Kung Fu, é atualmente praticante de Muay Thai e escreve no blog da editora Nova Alexandria a coluna Jovem leitor todas as quartas-feiras.
Ulisses Azevedo Gonçalves, 14 anos, é estudante da ETEC Basilides de Godoy. Praticou por dois anos e meio Kung Fu, é atualmente praticante de Muay Thai e escreve no blog da editora Nova Alexandria a coluna Jovem leitor todas as quartas-feiras.
Márlon Reis (Via Twiiter):
ResponderExcluirGostei muito! Parabéns para você é para o Uli! É a isso que me refiro.