Capa do livro Contos e fábulas do Brasil.
Por Marco Haurélio
Passado muito
tempo, o cego Longuinho se misturava a uma multidão
aglomerada em frente a uma igreja onde um padre
celebrava uma missa. Pelo povo o cego soube que havia um
curador fazendo milagres.
Alguém lhe
sugeriu que pedisse uma esmola ao homem, que não era
outro senão Nosso Senhor Jesus Cristo.
— Eu não! Foi por causa dele que perdi a minha vista! — e pediu a um soldado que o conduzisse para perto do tal curador para cravar uma lança no peito dele. Seguindo a indicação, ele cravou a lança no peito de Cristo. Quando bateu a lança, esguichou sangue nos olhos vazados de Longuinho e ele voltou a enxergar. Jesus perguntou o que ele queria, ao que ele respondeu:
— Quero força suficiente para derrubar uma casa ou uma árvore.
Jesus pediu ao povo que saísse da igreja e Longuinho, com dois balançados, a pôs no chão. Depois, Jesus pediu a Longuinho que sacudisse os escombros.
Ele sacudiu e a
igreja tornou a se levantar. Longuinho, a partir desse
dia, tornou-se São Longuinho, e o povo, maravilhado,
testemunhou o poder de Cristo, o Governador do mundo.
Nota: Um
dos mais importantes documentos acerca do
lendário cristão é o livro Legenda áurea, do
frade dominicano Jacopo de Varazze (Jacobus de
Voragine), escrito no século XIII, que reúne as
narrativas lendárias da vida de muitos santos (Vitae).
Um deles é São Longuinho, ou Longino, que a tradição
aponta como o centurião presente à crucificação de
Cristo (Mateus, 27:54; Marcos, 15:39; Lucas,
23:47). Conforme a crença popular, ele era cego por
conta de um castigo imposto pelo malvado rei Herodes.
Esta parece ser a origem do conto São Longuinho,
que, em nossa versão, recebe atributos do seu antecessor
mítico, Sansão.
Este conto foi narrado por uma extraordinária contadora de histórias, Jesuína Pereira Magalhães (1915-2013), fonte de outras narrativas orais do livro Contos e Fábulas do Brasil.
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