Por André J. Gomes
Em São Paulo faz calor. Na África do Sul, também. Em
Porto Alegre, uma chuvinha fina umedece as ruas e os ímpetos de toda gente.
Casablanca, no Marrocos, está parcialmente nublada. Reykjavíc, capital da
Islândia, sonha debaixo de chuva com um dia de sol. Na Antártida, no Pico do
Everest e no Pólo Norte faz frio. E contrariando todas as previsões, aqui
dentro faz amor.
É um amor mansinho, esperança de sol no fim da tempestade. Promessa de calor
depois da frente fria. Amor de precipitações. Não importa o quanto dure. Aqui
dentro faz amor.
Sujeito a chuvas e trovoadas como todo sentimento amoroso, esse amor soprado direto do peito de Deus abriu clareiras de céu azul entre muralhas de nuvens cinzas, inundou de sol a terra fria, tirou as crianças de casa, encheu de vida as ruas e praças e praias e parques e todo canto de estar sob o céu.
Lá fora faz calor. E a vida se agita agora de risos e sons de festa, palavras de apreço, cheiros de comida no fogo, palmas de aniversário. Aqui dentro, a cortina se abre e o sol estarrece de luz tantas sombras, varre cantos escuros, aquece lembranças geladas. Aqui dentro faz amor.
O céu está azul. O mar, também. Azul como a saia da moça que passa esvoaçando beleza, a piscina que recebe as crianças, os cabelos das minhas avós e toda lembrança de festa. Azul como o sentimento bom que abriu o tempo e fez sol em mim. Sol que aquece, consola, repara, abençoa. Sol que brilha e conforta como o olhar imenso de Deus.
O boletim do tempo informa: aqui dentro faz
amor.
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