Por André J. Gomes.
Está
faltando grandeza na gente. Falta, sim. Em todo canto, falta. Vivemos à
míngua de gestos generosos, intenções grandiosas, ações maiores. Como
bichos tímidos, acanhados em nossos projetos, reduzimos nossas vidas aos
cargos e postos e títulos e relações oficiosas e protocolares que aos
poucos nos transformam em meros colecionadores de miniaturas, acumulando
milhas de mesquinharias. Nós e nossas vidinhas habitadas por pessoinhas
deslumbradas, sorrindo sem graça em jantarezinhos sem afeto, cozinhando
pratinhos sem gosto, a partir das receitinhas de homenzinhos dos
programinhas de tevê.
Falta
grandeza na gente, sim. Insistimos em ser rasos, superficiais,
rasteiros, trancafiados em nossas verdades minguadas, metralhando com o
dedo quem passar perto. Rareiam amigos de coração aberto e mãos postas,
estendidas. Falta quem se disponha a escutar mais e mostrar menos,
perguntar mais do que responder, questionar mais que pontificar. Falta
gente disposta a pagar a conta por pura e simples gentileza. Ah… como
são raras as visitas que surpreendem quando chegam para o churrasco em
casa alheia trazendo nos braços algo além das doze cervejas combinadas.
Um bolinho para a dona da casa, um presentinho para as crianças.
Qualquer coisa para além de uma presença fria, mirrada, previsível,
burocrática.
Pior.
Nossa escassez de elevação vem sob a escolta das matilhas de gênios e
suas teorias em defesa da mesquinhez. “É a crise!”; “não sobra dinheiro
para isso”; “também, com o preço das coisas…”; “no mundo moderno cada um
paga a sua, tá reclamando do quê?”; “É cada um por si” e outras
desculpas esfarrapadas. Como se a falta de dinheiro fosse o único
problema.
Será
mesmo? Ou tanta evasiva não passa de nossa obtusa mania de pequeneza
crescendo como verruga, aumentando como um buraco? Certo é que nos
tornamos sovinas, ridículos, avarentos de emoção e entrega e disposição
para nós e para os outros. Isso, minha gente, tem pouquíssimo a ver com
dinheiro. Estar “no bico do urubu”, sem um tostão para nada, não faz de
alguém um “mão de vaca”. Há muito mendigo por aí dividindo seu pedaço de
cobertor, sua porção de comida fria e seu meio cigarro com quem
necessita. Porque generosidade é coisa das almas elevadas, com ou sem
fundos patrimoniais. E ela está em falta como a água que baixa nas
represas e o dinheiro que some dos cofres.
Nosso
tempo na vida é tão pequeno e a grandeza anda tão pouca! Quanto será
que nos resta? Por quanto mais você e eu estaremos aqui? Quanta vida nos
cabe ainda? Trinta anos? Quarenta? Duas horas, um minuto? Pergunto,
pergunto e com franqueza me dou conta de que, no fundo, não importa. Não
interessa porque no fim do caminho qualquer tempo terá sido pouco.
Muito pouco tempo para perdermos com pequenezas.
Sejamos
francos. A vida anda mirrada demais. Reduzida contra vontade, coitada, à
pequena experiência pessoal de cada um. Obrigada por nós mesmos a dar
as costas à sua vocação essencial. Porque, você sabe, diferente do que
querem os mesquinhos, viver é nada senão um tremendo e escandaloso
exercício de grandeza. Sejamos francos. Está faltando grandeza na gente.
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