quinta-feira, 25 de setembro de 2014

SP: ZONA LESTE - Noites Dionisíacas

Por Manoel Gonçalves (Manogon).

 

Era uma noite paulistana quase comum. Uma sexta qualquer, uma noite qualquer, depois de um expediente comum a todos os outros dias. Afinal, tudo seguia na mesma. A cidade virou um caos com o quase inerte trânsito costumeiro. Os ônibus circulando abarrotados, o que diminuía as chances de uma viagem tranquila, mesmo com a facilidade da faixa exclusiva. Metrô e trem lotados. Euforia para se preparar para as baladas. Sampa na correria de sempre. Mas, naquela sexta, 19 de setembro, porém, as coisas eram um pouco diferentes. No meio do caminho havia uma casa, uma Casa Amarela.


A ordem do dia era um compromisso com a arte, uma reverência a Dionísio e à magia do fazer teatral. Uma noite dedicada a mais uma vertente artística dentro da Casa Amarela. Vertente não inédita por lá, é bom que se diga, pois a Casa Amarela iniciou seus trabalhos por meio de intervenções cênicas, de pesquisa, oficina e encenação com o Grupo Teatral Alucinógeno Dramático, o qual segue outros promissores caminhos agora, mas é lembrado ainda como um dos expoentes culturais na seara artística da região e com prestígio pelos frequentadores da Casa Amarela.

O evento, batizado temporariamente (ou não, como diria Caetano) como “Sextas Cênicas”, vinha sendo costurado há algum tempo, em conversas de boteco entre Akira Yamasaki, Sueli Kimura, Escobar Franelas, Luka Magalhães e eu, Manogon. Entre bons goles de café (diria garrafas), biscoitos e viagens mil, decidimos colocar à prova a proposta. Como pontapé inicial, em busca de um formato adequado à Casa e viável aos visitantes/frequentadores, diretamente do baú literário de Luka Magalhães, foi marcada a leitura cênica do monólogo “Ascensão, Apogeu e Queda de um Homem Qualquer”.

Expectativa e ansiedade, comuns a toda estreia. O público compareceu, embora maior na qualidade que na quantidade, devido a uma série de outros eventos e as dificuldades rotineiras da cidade e adequação de agendas. Papo costumeiro entre os presentes, com direito a café feito pela Sueli, torta de Luka e biscoitos providenciados pelo Escobar. Tudo pronto! Mas antes da leitura da peça, que era o prato principal, um aperitivo: uma performance feita por mim para a canção de Antônio Marcos, Sonho de um Palhaço. A esquete montada foi uma mistura, com pitadas de musical, interpretação e pantomimas, explorando o drama relatado na música. Sete minutos que ajudaram a preparar o clima para a entrada marcante de convidado especial.

Luka Magalhães subiu ao tablado e com mestria começou a expor a beleza de seu texto. Nas palavras de Escobar, um “texto denso, irônico, de sublimação”. A interpretação empregada por Luka para a leitura do monólogo ajudou o público a entrar na história desse homem qualquer. Dividido em três tempos bem definidos, as agruras e satisfações da personagem em sua obsessão de Querer, Ter e Perder, uma busca constante de superação das angústias e sede por vingança por quem o fez sofrer. Mas seria isso mesmo? Seria essa a sua vontade? Um personagem completo e complexo, o que nos fez imaginar e desejar uma montagem digna e com tudo a que tem direito, para um tempo e espaço não distantes.



Após as apresentações aconteceu, com muita descontração, um bate-papo sobre o entendimento do público, as percepções sobre o evento, o desejo que essa iniciativa se repita, ao menos uma vez por mês, numa sexta pré-determinada e também sobre projetos que envolvam as artes cênicas.

O que se pode colher do público é que eventos como esse serão bem-vindos, que a Casa Amarela cumpre com seu papel de fomentar a efervescência artística, que outros textos podem ser lidos, outras cenas devem ser exploradas e outros artistas têm de ser convidados a mostrar sua arte no tablado ou cômodos da Casa Amarela.

Enfim, ficou (e oxalá sempre fique) um gostinho de quero mais...

Aguardem e acompanhem!

Enquanto isso, dia 27 de setembro, sábado, tem mais um BláBláBlá, com outras abordagens sobre o tema Literatura Marginal.

E dia 11 de outubro, domingo, mais uma edição do Sarau da Casa Amarela.

Compareçam para prestigiar e levem sua arte.

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