quinta-feira, 7 de agosto de 2014

BRASIS, PORTUGAIS E ÁFRICAS – Uma FLIP 2014: a minha.

Por Susana Ventura.

Poster FLIP 2014.

FLIP 2014. Viajei a convite de uma amiga romancista e tinha como única obrigação a felicidade. Como tenho vocação para a alegria, não foi difícil ser muito feliz.

Eu ansiava pelo reencontro com amigos queridos, que vivem  em  outros Estados e por isso é quase impossível encontrá-los fora do universo virtual.

Não levei nenhum livro comigo (!). Eu, que não consigo nem tomar o metrô para viajar duas estações sem carregar livros...

Confesso que gosto da ideia de festivais literários e também de toda e qualquer proposta que coloque no mapa do imaginário individual a possibilidade de atividades mais produtivas do que ir a centros comerciais comprar coisas.

Não sou purista, subo num palco parte do ano, em parceria com músicos, grafiteiros, atores, videoartistas e quem mais surgir, para falar sobre literatura, ler e dialogar com produtores de outras linguagens.

O que as pessoas farão com isso – quantas vezes me perguntam isso? – não está sob meu controle. Faço o que faço acreditando que existe a possibilidade de que alguém vá chegar aos livros porque esteve ali naquela noite. E me contento.

Desta maneira, não subestimo o poder simbólico de um festival literário, que pode ser capaz de fomentar o interesse em torno de escritores, livros e leituras dos mais diversos tipos... ou ser apenas uma forma de entretenimento cult. A recepção está fora do âmbito de quem idealiza e realiza o festival.

Pois bem, este é um balanço muito pessoal e não pretende ser mais do que isso. Acompanhei o que tive vontade, regida pelo desejo de estar próxima de pessoas do meu universo afetivo e, claro, pela vontade de ouvir gente que conhecia somente da página escrita.

Estive  dentro da Tenda dos autores uma única vez: para ouvir Almeida Faria e Jorge Edwards, numa das mesas do último dia. Também aproveitei os bons e democráticos telões espalhados por ambientes diferentes para ouvir algumas das pessoas que me interessavam, em diferentes sessões. Louvo a democratização trazida por telões (ao lado da Igreja Matriz, a transmissão era sempre em português, ouvindo-se a tradução simultânea apenas, em caso de estrangeiros; do lado de fora da tenda havia espaços para ouvir somente nas línguas originais e outros, onde aparelhos para ouvir a tradução simultânea estavam disponíveis).

Uma instituição financeira patrocinou a distribuição de leves e práticos banquinhos de papelão, com alças, que podiam ser levados para qualquer lugar (apossei-me de um e ele teve boa serventia).

Os espaços infantis – pés de árvores, biblioteca, tenda da FLIPINHA - estavam lá.  (Credo, que frase esquisita! Pois bem, é isso, cumpriram seu papel, merecem louvação pela boa interface que estabeleceram com a comunidade ao longo dos anos. Mas eu queria mais... ânimo da monitoria, vontade de conversar, capacidade de dar informações. E que o elenco de autores, na fala final, na ansiedade por estabelecer link com a obra do homenageado Millôr Fernandes, pudesse ter evitado escolher trechos da obra do autor que falavam sobre sexo, adultério, corrupção e quejandos para dialogar com uma plateia de pessoas com crianças pequenas. Foi difícil para mim ouvir autores de literatura para crianças e jovens dizendo: ‘Tá vendo, aqui, essa fala sobre corrupção do Millôr? É, o Brasil NÃO MUDOU NADA.’ Teve até autor reclamando do pagamento de imposto de renda...e usando Millôr, claro! Como contraponto houve a bela fala de Roger Mello, com competente mediação de Volnei Canônica e os vários encontros intimistas entre crianças que vinham das escolas locais e autores. Fui a um desses encontros matinais, na biblioteca infantil, para conhecer uma autora que eu admirava há tempos. Éramos só duas adultas ali, além da palestrante e da equipe,  e foi ótimo de verdade!).

Alguns dos melhores momentos da FLIP aconteceram no circuito paralelo, em que inovação, acolhimento e circulação de ideias se conjugaram. Entre as inúmeras casas de editoras, destacaram-se pela beleza: o espaço SENAC, a casa do Instituto Moreira Salles, a casa/galeria de arte da DSOP.  Esta última trouxe originais de seus ilustradores mais representativos da área de literatura para crianças e jovens e fez a diferença. Além da possibilidade de ver as obras e encontrar os autores, encontrei acolhimento caloroso e amigo, e senti o interesse em conversar e falar de livros, de autores.

O SESC Paraty foi a segunda galeria de arte/ ilustração infantil. A mostra com obras muito representativas, de ilustradores brasileiros e estrangeiros, estava belamente exposta. Havia catálogo específico, monitores interessados em acompanhar cada visita, observar as telas, conversar, trocar ideias com os visitantes. No jardim interno da casa havia livraria, sofás, mesinhas e era servido café aos visitantes.
A programação do SESC foi variada, com performances, shows, e várias mesas de grande interesse. Ali  passei algum dos melhores momentos da FLIP, em encontros bem pensados e, em sua maioria, com moderadores realmente excelentes.

Ainda merece destaque a casa da editora Rocco, com pessoal interessado, discussões interessantes, moderadores bacanas, lugares para se sentar, ler, descansar. Um dos poucos pontos com bom wi-fi na cidade e aberto aos visitantes.

E por falar em moderação, esta coisa aparentemente desimportante, mas que pode fazer com que uma mesa seja realmente inesquecível: ai! Alguém, por favor, proponha uma oficina que ensine mediação e moderação.

No circuito oficial e alternativo, vários moderadores seguiram a ‘escola’ ‘Falaê do seu livro’.  Pessoal? Vocês ainda estão aí? Não funciona assim, tá? O moderador existe para ler as obras, interagir com os autores e dirigir, efetivamente, os trabalhos. E, se for necessário, tentar conter os loucos de palestra...

Nesta modalidade, as mediações excelentes de Suzana Vargas (na Casa Libre/Nuvem de Livros) e de Maria José Duarte (no SESC), foram os pontos altos, conduzindo mesas que foram excepcionais.

Para mim, a surpresa e o destaque, notável sob muitos aspectos, foi a pequena e muito acolhedora casa da LIBRE (editoras independentes)/Nuvem de livros. Café sempre fresco, lugar para sentar-se, banheiro limpo e acessível aos visitantes (coisa rara na cidade), degustação de tapioca oferecida com cardápio e tudo. Bastava ficarmos algum tempo na casa para um dos editores oferecer a boa tapioca, trazer o cardápio, fazer indicações. Entre o exame dos livros das diversas editoras que estavam expostos ali (comprei um dos meus na Livraria Paraty e coloquei na estante) e a conversa amiga, esperava-se pelas rodas de discussões ou por outras atividades. Ali brilhou a melhor mediadora da FLIP, Suzana Vargas, aconteceram as ótimas conversas sobre opções em bibliotecas digitais, houve saraus e shows bacanas e, ponto alto,  falou o querido Antônio Torres para as muitas pessoas que se amontoavam na sala, felizes. Quase todos eram leitores da obra do autor e vinham de vários Estados do país. Houve quem assistisse pela janela do lado de fora. Dos espectadores que não couberam na casa também surgiram boas questões, que foram respondidas por Torres com a simpatia habitual.

A pequena casa foi o ponto certo de encontro e de diálogo. Além disso, teve a ecobag mais bonita da FLIP (ao lado daquela da Revista Piauí, destinada a assinantes). Só que a sacolinha da LIBRE/Nuvem de livros era oferecida ao público, que nem precisava pedir por ela...

Este é o meu balanço de 5 dias incrivelmente intensos. Mas é só a minha opinião... 

3 comentários:

  1. E que opinião!!!!! O Diário da Musa da Flip. Beijos, Susanita.

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  2. Super obrigada, Tom! Foi uma FLIP muito legal mesmo! Abraço da Susana

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  3. Oi, Susana. Adorei seu texto. Que bom lembrar da Flip pelo seu olhar! Fiquei feliz em ver você por lá. Beijos!

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