Por Therezinha Hernandes.
Diferenciar o complemento nominal
do adjunto adnominal tem sido a via crucis de muitos estudantes; porém, existem
maneiras de identificá-los com segurança, e é disso que trataremos hoje.
A análise sintática, que
antigamente era chamada de análise lógica, gira em torno de dois eixos
principais, que são o verbo e o substantivo.
O substantivo é o eixo ao redor
do qual gravitam outras palavras, que funcionam como seus determinantes. São os
artigos (que determinam gênero e número), os numerais (que quantificam o
substantivo), os pronomes (que ora substituem o substantivo, ora o acompanham,
modificando-o de alguma maneira), os adjetivos e locuções adjetivas (que
atribuem qualidades ao substantivo).
Tomando como base o substantivo livros, podemos encontrar as seguintes
estruturas:
- os livros – os, artigo definido
masculino plural (determinando gênero e número do substantivo livros)
- cinco livros – cinco, numeral cardinal
(quantificando o substantivo livros)
- meus livros – meus, pronome possessivo
(modificando o substantivo livros
– já não são quaisquer livros; são os livros que pertencem a mim)
- livros antigos – antigos, adjetivo
(qualificando o substantivo livros)
- livros de gramática – de gramática, locução
adjetiva (igualmente qualificando o substantivo livros)
Esses determinantes sempre vão se
referir apenas a substantivos; se acompanharem uma palavra de outra classe
gramatical, esta será substantivada (a chamada derivação imprópria):
O dia já vai amanhecer – nesta oração, amanhecer
é verbo.
O amanhecer é
sempre um espetáculo grandioso – nesta oração, contudo, a presença do artigo o transforma a palavra amanhecer num substantivo.
Quando lidamos com artigos,
numerais, pronomes e adjetivos, não é difícil constatar sua função como
adjuntos adnominais. O problema começa com as locuções adjetivas, muitas vezes
difíceis de distinguir do complemento nominal, visto que tanto as locuções
adjetivas (que funcionam como adjuntos adnominais) como os complementos
nominais se iniciam por preposição.
Primeiramente, cumpre esclarecer
que há três classes gramaticais que são designadas genericamente como NOMES: o
substantivo, o adjetivo e o advérbio.
Existem nomes (substantivos,
adjetivos, advérbios) que demandam uma complementação de seu sentido, assim
como os verbos transitivos,
que necessitam de complementos também.
Os complementos de verbos
transitivos são o objeto direito e o objeto indireto; os nomes “transitivos”
(cujo significado se revela incompleto) recebem um complemento nominal.
Acabamos de ver que artigos,
numerais, pronomes, adjetivos e locuções adjetivas referem-se apenas a
substantivos. Assim, quando a palavra em análise for um adjetivo ou um
advérbio, a expressão que a eles se refere só poderá ser um complemento
nominal. Assim:
Sua decisão foi contrária aos nossos interesses. Aqui, a expressão “aos nossos
interesses” refere-se ao adjetivo contrária;
portanto, aos nossos interesses
é complemento nominal do adjetivo contrária.
Independentemente de sua
opinião, vamos adotar este cachorro. Neste exemplo, “de sua opinião”
refere-se ao advérbio independentemente,
e assim de sua opinião é
complemento nominal do advérbio independentemente.
Quando lidamos com substantivos é
que a coisa muda de figura. Então, vamos facilitar o caminho:
Apenas substantivos abstratos
podem requerer complemento nominal; os concretos terão adjunto adnominal.
Substantivos abstratos são aqueles que não possuem existência independente
(isto é, dependem de outro ser para existir, como no caso de substantivos que designam
sentimentos, emoções, ações, etc.; normalmente são derivados de verbos e de
adjetivos). Exemplificando:
a) concretos: mesa de madeira (mesa, substantivo concreto; de madeira, locução adjetiva = adjunto
adnominal de mesa); bolsa de couro (bolsa, substantivo concreto; de couro, locução adjetiva = adjunto
adnominal de bolsa);
b) abstratos: medo de avião (medo, substantivo abstrato; de avião, complemento nominal de medo);
aptidão para o trabalho (aptidão,
substantivo abstrato; para o trabalho,
complemento nominal de aptidão);
lembrança do passado (lembrança,
substantivo abstrato; do passado,
complemento nominal de lembrança).
Como dissemos há pouco,
substantivos abstratos podem derivar de verbos e de adjetivos. Assim,
substantivos abstratos, derivados de verbos e de adjetivos, requerem
complemento nominal:
verbo (transitivo)
|
complemento verbal (“objeto”)
|
substantivo abstrato
|
complemento nominal
|
desejar
inventar
obedecer
depender
desprezar
colocar
recear
convidar
|
a vitória
um aparelho
às leis
dos pais
a morte
cartazes
mudanças
para uma festa
|
desejo
invenção
obediência
dependência
desprezo
colocação
receio
convite (o ato de convidar, não
o objeto)
|
de vitória
de um aparelho
às leis
dos pais
da morte
de cartazes
de mudanças
para uma festa
|
adjetivo “transitivo”
|
complemento nominal
|
substantivo abstrato
|
complemento nominal
|
apto
desejoso
louco
ávido
certo
|
para o trabalho
de vencer
por chocolate
pelo sucesso
da derrota
|
aptidão
desejo
loucura
avidez
certeza
|
para o trabalho
de vencer
por chocolate
pelo sucesso
da derrota
|
Espero que isso tenha
descomplicado um pouco a distinção entre complemento nominal e adjunto
adnominal.
E, como falamos de locuções
adjetivas, alguém já desvendou o enigma do “leite de cabra em pó”? Em breve
mostraremos a solução!
Até nosso próximo encontro.
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