terça-feira, 27 de maio de 2014

SP: ZONA LESTE - Quem sabe faz a hora

Sarau O que dizem os umbigos
Por Luka Magalhães.

Sarau Casa do Chefe
Lembro-me da época em que jogávamos bola nas ruas e de quando nos reuníamos para limpar algum terreno baldio e ali fazer nosso campinho de futebol, mesmo que só disputássemos nossas partidas somente no final de semana em que o limpávamos. Ou o entulho era novamente posto nos terrenos ou voltávamos para as ruas de terra, melhor lugar onde nosso “estádio” poderia ter mais do que os costumeiros vinte e cinco metros de extensão, tamanho padrão dos lotes de outrora. Hoje não vemos mais os garotos se mobilizando para tais ações, pois não existem mais terrenos vazios que não estejam murados e são poucas as ruas em que ainda seja possível uma partida de futebol com pés descalços.

Coletivo 32
O que me fez lembrar dessa época foi um evento marcado para esse final de semana (24 e 25 de maio) em Jandira, cidade da Grande São Paulo, principalmente por me trazer à lembrança o fato de se ter um objetivo simples nas ações propostas para esse evento, tal o grupo de crianças limpando u terreno baldio. O Coletivo 32, marcou a ocupação de uma área entulhada para realizar a limpeza e ali criar uma praça popular eco sustentável para a realização de eventos culturais. Alguns poderiam dizer que é um evento simples e sem importância, mas não foi assim que enxerguei o ato. Vi cidadania, envolvimento da população local, engajamento pró-cultura e “manifestação” sobre a ausência do poder público, que se fez de cego ao espaço abandonado.

São atos como esse que mostram o quanto as manifestações culturais podem revitalizar e fortalecer uma região, mostrando que é possível se fazer cultura sem depender dos governos, que cultura pode se sustentar pela vontade de um grupo que acredita nisso. São os alicerces populares que mantém a cultura não midiática em pé. São pessoas simples, cidadãos anônimos que não aparecem nos holofotes das televisões, que
Coletivo 32
realmente fazem a cultura se enraizar em cada canto do país.

Na capital paulista temos várias ações semelhantes acontecendo. No Parque Raul Seixas (COHAB José Bonifácio, em Itaquera) parte da administração foi ocupada para a criação do espaço cultural. No centro do bairro, da antiga estação de trem só restou a “casa do chefe”, moradia cedida pela empresa ferroviária para o responsável pela estação, que está sediando o “Sarau da Casa do Chefe” e o grupo que organiza o evento luta para que seja criada a “Casa da Memória” do bairro.

No Itaim paulista, nossos irmãos do “Sarau O que dizem os umbigos” realizam seus eventos em diversos locais abertos, levando sua alegria para os frequentadores desses espaços.

Coletivo 32
A nossa Casa Amarela é outro exemplo de como se perpetuar cultura sem verba pública. Ali são promovidos os saraus mensais, o “Blá-blá-blá”, roda de conversas sobre a produção cultural e outros eventos, sempre com a parceria do IPEDESH (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Social e Humano). Ainda temos a investida da Casa no lançamento de CDs e livros de artistas populares, fazendo com que essa produção artística possa ser perpetuada.

Todas essas ações são feitas pela força de vontade dos grupos que tem consciência de que é possível fazer e perpetuar cultura sem depender do poder público.

Parafraseio então Geraldo Vandré:

Vem vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora,
Não espera acontecer


Luka Magalhães é analista de sistemas e nas horas vagas escreve poesia, contos e peças teatrais. Ministra a palestra “Eu nas relações interpessoais”, que trata do comportamento individual em situações cotidianas. Administra a página Eu Recomendo, no Facebook , que divulga os eventos culturais que acontecem principalmente na Zona Leste de São Paulo, e também os artistas populares que circulam pelo país.

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