terça-feira, 6 de maio de 2014

Coluna POR DENTRO DA ESCOLA - Era uma vez no meu bairro: Jd. Guarani

Prof.a de História e Orientadora da Sala de Leitura da EMEF Jd. Guarani Regina Lino entre as colegas Coordenadoras Maria Nazaré e Renata.

Por Jeosafá.

Visite ontem (05/05/14) a EMEF Jd. Guarani, na Zona Norte de São Paulo, a convite da prof.a Regina Lino, Orientadora da Sala de Leitura. A escola fica a pouca distância da serra da Cantareira e, a propósito do tema escolhido para o Café Cultural a ser realizados no dia 26 deste mês de maio, fui convidado a me integrar na programação - e me convidei a participar em alguma medida do planejamento dessa atividade.


Minha presença se justifica em razão de meu romance Zona Norte, da série Era uma vez no meu bairro, ajustar-se ao eixo escolhido para o trabalho de crianças e adolescentes do Ensino Fundamental e jovens da EJA (Educação de Jovens e Adultos): o próprio bairro em que eles moram em em que a escola funciona.


Após ser apresentado pela prof.a Regina Lino às diversas educadoras na Sala dos Professores (fico em dívida com elas, pois não gravei seu nomes), realizamos uma produtiva reunião na sala das coordenadoras Maria Nazaré e Renata (na foto acima). Em discussão, o Café Cultural, mas também a possibilidade de outras visitas minhas à escola, desta vez para conversar com os próprios estudantes.




Em meio à sessão dedicada a Paulo Leminski, na Sala de Leitura, alguns alunos escondem o rosto para não aparecerem na foto, enquanto outros sorriem para a câmera: dois gestos igualmente legítimos e igualmente significativos, que revelam o respeito à liberdade de cada um.

Dessa conversa resultou que dia 13, terça-feira da semana que vem, temos uma agenda com o jovens da EJA para conversar sobre meus livros, mas também sobre o bairro em que vivi, na infância, que não difere muito do Jd. Guarani - ou do Morro Doce, perto da casa em que hoje moro.


Muitas vezes vemos a parte de fora das coisas, sem perceber que o bairro da gente não é só construções sem reboco, violência, esgotos sem tratamento, fios elétricos cruzando as ruas pelo alto. O bairro da gente são as pessoas, que tem sonhos (e para sonhar não se precisa de palacetes) esperanças (e esperança não se confunde com comodismo) .

Quando estiver na terça-feira à noite na escola, pretendo falar disso. O poeta Maiakóvsky escrevia seus poemas debaixo da escada de suas casa, único lugar disponível e no qual se sentia em paz para deitar seus poemas no papel. Carlos Drummond de Andrade passou da infância à juventude na modesta cidade de Itabira do Mato Dentro, e tornou-a conhecida do mundo em seus versos cheios de beleza, saudade (e às vezes tristeza - mas quem disse que a tristeza não pode ser bela?).



Carlos Drummond de Andrade

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; 
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Jardim Guarani. Foto de Daniel Souza Lima em Panorâmico.
A beleza está nos olhos e no sentimento, não nas paredes sem reboco e nos fios de energia emaranhados. Agora, com luta, dá para melhorar essa paisagem, eu direi aos jovens na terça-feira à noite, mas já digo aqui também, nesta coluna Por dentro da escola.
Muitas vezes somos tentados a ver beleza e significado em tudo que está distante de nós. Porém, com um pouco de paciência e sensibilidade podemos nos tornar capazes de enxergar a beleza de coisas e pessoas que estão a nossa volta - e que estão pedindo pelo amor de Deus para serem notadas.

Jeosafá é autor de ficção, poesia, ensaios e obras para formação docentes. Professor, lecionou por mais de 15 anos para a Educação Básica e para o Ensino Superior. Toda terça-feira, publica a coluna Por dentro da escola, para o blog da editora Nova Alexandria.




 Leia também a coluna TROFÉU O ESCRACHO DA SEMANA. Nelas, políticos, jogadores de futebol e socialites recebem seus merecidos prêmios.

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