terça-feira, 20 de maio de 2014

ÉTICA E VALORES: É preciso saber viver

O psicólogo e filósofo suíço  Jean Piaget.
Por Luiz Roberto de Aguiar.

Em meio à correria que nos é imposta pelo dia a dia, da necessidade de se pagar as contas, de cuidar dos entes queridos lhes proporcionando o que se pode ter de mais moderno, na busca desenfreada do trabalho mais lucrativo, por consequência os melhores salários e benefícios para o provedor, incluindo-se ai os passeios mais incríveis aos seus dependentes. É que se cai em alguns casos na maior das armadilhas sociais desta época em que vivemos.

Esta é a “Terceirização da Educação dos Filhos”. Tem sido notória a frequência bem como a quantidade de pais que aos poucos vão aderindo a este modismo e por que não dizer a esta fraqueza relacional. Sabemos todos que a globalização trouxe-nos inúmeras vantagens frente aos séculos passados e suas posturas nas relações familiares, comerciais, profissionais, educacionais e esportivas. Pena é que o ser humano em determinadas partes deste avanço, não caminhou na velocidade e profundidade corretas, pois algumas famílias têm apresentado dificuldades de posicionarem-se frente às novas questões que surgem na vida moderna.

A vida na pós-modernidade exige empenho com o trabalho, dedicação de incontáveis horas para obter novos conhecimentos ou atender o cliente até que o último se retire. Estas e outras solicitações da vida laboral atual promovem ocorrência de horas extras, a permanência no trabalho até mais tarde, consecutivamente impedem a relação familiar de ser construída com o convívio que deveria existir entre seus integrantes.

Estabelece-se um distanciamento entre os membros da família e cada um trata de si da forma que achar melhor, ou a saída pela direita é direcionar para a escola aquilo que no passado não foi seu papel, porém na atualidade notamos que cada vez mais lhe é necessário entender e realizar: “promover a prática da educação e facilitar a discussão de uma vida com princípios entre as crianças e jovens”.

Segundo Piaget (1994) é preciso que haja o equilíbrio entre o amor e o temor, entre outras várias características, para que o indivíduo possa formar ao longo de determinado tempo de vida a sua “Personalidade Ética”. Sem a qual dificilmente o cidadão irá quebrar este circulo vicioso que se estrutura com a terceirização da educação, que nada mais é do que o processo de afastamento dos pais de seu relacionamento com a criança de várias formas e o desequilíbrio entre a relação de amor e de temor entre estes genitores e seus filhos.

A conduta acima descrita mesmo quando vivenciada de forma inconsciente ampliará a oportunidade de que esta criança venha a agir de maneira não ética, egoísta e muitas vezes possessiva, além de não amorosa para com seu próximo. Outras situações podem ser a falta de obediência às regras pré-estabelecidas e o exercício de jogos de poder, no caso o bullying, ou até mesmo no futuro o uso de drogas.

Outra conduta que colabora na terceirização da educação é o sentimento de culpa que alguns pais vivem por terem de trabalharem muito e conviverem pouco tempo com seus filhos, o que os incentiva a viverem na cultura do sim, ou seja, agora que papai ou mamãe chegou do trabalho: “tudo pode meu amor”.   

Erros sobre erros vão reduzindo a possibilidade de criar indivíduos com Personalidade Ética e gerando seres humanos cada vez mais voltados para si mesmo. Podemos fazer diferente, reduzir a correria da vida e nos determinarmos a vencer as ofertas da pós modernidade, evitando o consumismo exacerbado, retirar o ter do lugar do ser, passar tempo com nossas crianças e jovens ensinando através do exemplo de vida e não a partir do “faça o que eu mando, e não o que eu faço!”



Luiz Roberto de Aguiar é Pós-graduado em Aconselhamento pela Faculdade Batista Teológica de São Paulo, professor de Filosofia para Crianças e Palestrante sobre Prevenção ao uso de Drogas. Escreve todas as quintas-feiras a coluna Ética e valores para o blog da editora Nova Alexandria. Contato: luizão.filosofia@yahoo.com.br.

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