Por Plínio de Mesquita Camargo.
Jogam fliperama dia sim outro
também, depois da aula ou em vez dela (manda Alice Cooper: Schools out!);
defronte o Vila Rica passa Independência ou morte, de Carlos Coimbra, pelo Sesquicentenário;
o Imperador está voltando, em caveira para o Ipiranga e, para as telas, nas
barbas de Tarcísio Meira. O ditador Médici gostou, tem que ver; as ditaduras
portuguesa e brasileira festejam cento e cinquenta anos de divórcio
superamigável; Coimbra não fez por encomenda, ele garante, apostou certo (e fez
bem feito); pode ter passado ali por uns seis meses.
Nos gramados do país joga-se uma
minicopa que (feliz coincidência) na final terá Brasil X Portugal e, claro, nós
ganhamos; Marcelo Caetano, herdeiro de Salazar, assim paga pelo apoio do Brasil
a sua ditadura moribunda, que chafurda em lama e sangue para manter suas
colônias africanas; nos gramados de Washington, milhares ouvem Joan Baez e Bob
Dylan cantarem contra a guerra no Vietnã. O ponto é na porta do flíper, colegas
sempre deixam meias partidas quando o ônibus deles vem; nos asfaltos do mundo, Fittipaldi
(O fabuloso Fittipaldi em filme de Roberto Farias, de 73) ajuda a construir a
imagem do país que vai pra frente – “Brasil, ame-o ou deixe-o”, diz o adesivo
em toda parte; sobre Vietnã ou sobre Angola não é preciso censurar o Estadão,
segundo o qual os nativos (africanos, vietnamitas, sul-americanos) não estão
preparados para a liberdade.
No Del Rey, subsolo com escadas
tipo mármore, pode estar algum Trinity (viram dois ou três), ou Lando
Buzzanca
numa pornochanchada italiana, ou alguma nacional feita na Boca, que não têm
idade para ver; Baez e Dylan, ouvem no Concerto para Bangladesh, a dramática Smoke
on the Water (Deep Purple) sacode as festinhas, um colega toca Tarkus (Emerson,
Lake & Palmer) inteirinha no piano. Bethânia, Chico e Nara cantam em Quando
o carnaval chegar (de Cacá Diegues), não assistem porque não deu na revista Pop;
Nicolau e Alexandra, fantasia czarista, alguém terá lido condensado em Seleções
e não terá querido ver.
O Bruni Vila Nova, numa galeria,
grande e chique, pode estar cumprindo cota com As deusas (de Walter Hugo
Khouri) Kate Hansen e Lilian Lemmertz, também demais para a turma, mas é mais
provável estar lá Aeroporto, Love story ou um dos três ou quatro Planeta dos
macacos; no Guarujá, mais adiante, poderiam (mas não vão) ver Bruce Lee, liberado
apesar de ser (segundo alguns em Brasília) propaganda subliminar do comunismo
chinês; mas veem Patton, rebelde ou herói, premiado por passar óleo de peroba
na moral dos generais dos EUA. Leila Diniz morreu, o Pasquim some às vezes da
banca, também gente às vezes some; tratores tombaram selva e índios para abrir
a Transamazônica, quase à beira dela jovens matam e morrem numa guerra, mas
disso ninguém fala; na Avenida Santo Amaro um cavalo empalhado guarda a porta
de uma selaria, combinando (não sabem o quanto, aos 14, 15 anos) com os tempos
cavalares que vive o país.
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