Nas últimas semanas, temos acompanhado a polêmica em torno
de um projeto de simplificação da linguagem em obras clássicas da literatura
brasileira. Essa ideia não é nova – já se publicaram edições “facilitadas”
antes; a novidade é que, agora, são visados autores nacionais. Resumindo a
ópera, é quase um caso de tradução do português para o português.
À parte as discussões acaloradas, do ponto de vista
literário e educacional, sobre a pertinência ou não dessa “facilitação”, o
assunto traz à baila várias questões de natureza gramatical, como o uso de
sinônimos e a ordem dos componentes de uma frase.
Porém, nem sempre a simplificação é algo ruim. Cumpre acima
de tudo destacar um princípio elementar da nossa língua: o princípio da economia,
segundo o qual o que pode ser dito em uma palavra não deverá ser dito em duas;
o que pode ser dito em duas não deve ser dito em três, e assim por diante.
Não vamos aqui tratar de estilo literário – nosso assunto é
a gramática. Assim, vamos começar a aplicar o princípio da economia às normas gramaticais,
começando pela acentuação.
Relembrando: de acordo com a posição da sílaba tônica
(aquela que se pronuncia com maior intensidade), as palavras se dividem em
oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, conforme a sílaba tônica seja a última,
a penúltima ou a antepenúltima, respectivamente.
A regra mais simples é a das proparoxítonas, haja vista que
todas são acentuadas: médico, antropólogo, esquizofrênico, último, hálito, etc.
Como nem todas as sílabas tônicas são necessariamente
acentuadas na escrita, existem processos mnemônicos (de memorização) para
auxiliar estudantes a guardar, por exemplo, quais paroxítonas devem ser
acentuadas, como “lirnuxão” e “rinilux”, mas não abarcam todos os casos, e algumas
terminações acabam ficando de fora.
Ao invés de memorizarmos todos os casos em que paroxítonas
são acentuadas, utilizemos um processo mais rápido: a exclusão. Observemos o
quadro abaixo:
TERMINAÇÕES
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OXÍTONAS
E
MONOSSÍLABAS TÔNICAS
Recebem acento
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PAROXÍTONAS
Não recebem acento
|
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sofá/sofás
café/cafés
cipó/cipós
você/vocês
avô/avós
dá-lhe
dê-me
vendê-lo
negá-lo
repô-las
pá
dó
fé
lê
armazém, vintém, ninguém, alguém, contém (singular),
contêm (plural),
[eles] têm (plural)
parabéns
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A, E, O – seguidos ou não de S
EM,
ENS
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acaba, morena
sabe, greve
cavalo, banco
jovem, item
jovens, itens
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Como se pode ver, observando as mesmas terminações, se as
palavras forem oxítonas ou monossílabas tônicas, recebem acento gráfico; se
forem paroxítonas, não são acentuadas.
Não sendo, porém, paroxítonas terminadas em –a, -e e –o
(seguidos ou não se –s), -em ou -ens, as demais serão acentuadas: táxi, júri,
lápis, tênis (paroxítonas terminadas em –i ou –is); bônus, Vênus (paroxítonas
terminadas em –us); ímã, ímãs (paroxítonas em –ã ou –ãs); órfão/órfãos,
órgão/órgãos, bênção/bênçãos (paroxítonas em –ão/-ãos); revólver, caráter
(paroxítonas em –r); nível, afável, fácil (paroxítonas em –l); tórax, bórax
(paroxítonas em –x); cárie, série, intempérie, barbárie, Bavária, história,
memória, murmúrio, níveis, afáveis, fáceis (paroxítonas terminadas em ditongo,
seguido ou não de -s); pólen, hífen (paroxítonas terminadas em –n; note-se,
aqui, que o plural não leva acento, pois resulta em paroxítonas terminadas em
–ens: polens, hifens).
Bem mais simples.
Therezinha Hernandes é
advogada tributarista e especialista em Direitos da Personalidade. Formada
também em Letras, pela USP, é professora de Língua Portuguesa para ensino médio
e para cursos pré-vestibulares. Gosta de música - da folclórica à ópera, mas
cantou em bandas de rock’n roll com muito feeling. Ministra oficina de leitura
e interpretação de textos para professores da rede pública.
Gostei muito da explicacao de acentuacao e fiquei pensando sobre a simplificacao da linguagem....esperamos voce nos explique mais.
ResponderExcluirQue bom, Maggie!!!
ExcluirFico muito feliz por você acompanhar a coluna.
Beijão e uma ótima semana!!
TT, gostei bem da sua crônica. Croniquemos! Já imprimi a tabelinha aqui - espero pela próxima semana. Nós que somos da literatura precisamos, e muito, de um reforço de gramática!
ResponderExcluirObrigada!
Susana
Eu penso o seguinte: se tem dúvidas, pesquise, pessoas cultas não discute maneiras de falar, nós vivemos num país com dimensões continentais, falar diferente só mostra a sua cultura, eu amo essa nossa língua, ao contrário do Caetano que diz: roçar a língua de Camões, eu gosto mesmo é de sentir minha língua roçar todas essas línguas.
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