domingo, 4 de maio de 2014

BRINCANDO COM A LÍNGUA: NÃO MALTRATE O PORTUGUÊS - Gelo solar, escrita, leite em pó

Por Therezinha Hernandes.

Passeando pelo Facebook no feriado de 1.º de maio (sim, adoro ler, amo gramática, mas não descarto a tecnologia), deparei-me com uma notícia que me despertou várias reações: “Máquina de gelo solar na Amazônia”.

A primeira foi de interesse: a criação de uma máquina de conservação de alimentos na Amazônia. Ótimo! Energia limpa, conservação da natureza; em uma palavra: sustentabilidade. Uma atitude louvável, sem dúvida, merecedora de toda seriedade.
  
Logo em seguida, porém, veio a estranheza: é uma máquina de gelo solar.

Oi? Hein? Como assim, “gelo solar”?
  
Consequentemente, a terceira reação foi uma incontrolável explosão de riso, pensando no “gelo solar”, em como pode existir gelo numa estrela (algum amigo astrônomo pode me explicar?), em como o homem teria acesso ao sol para retirar uma eventual peça de “gelo solar”, e assim por diante.
  
Passada essa primeira impressão, foi fácil detectar que a pressa de criar uma manchete, um texto curto e atrativo que desse uma ideia geral da notícia, acabou causando uma falha de comunicação.
  
Temos sido levados a acreditar que a gramática só tem regras chatas. No entanto, quando trabalhamos com a escrita, sempre ocorrem situações em que o conhecimento da língua é mais do que útil – e essa “máquina de gelo solar” é uma prova.

Antes de ir adiante, é preciso fazer um alerta: engana-se quem pensa não precisar da escrita se for um físico teórico, engenheiro, médico, executivo de multinacional, biólogo, perito criminal. Em algum momento, se não frequentemente, será necessário redigir um relatório, entregar trabalhos acadêmicos, dissertações de mestrado, teses de doutorado.

A escrita infalivelmente fará parte da nossa vida profissional, mesmo que não sejamos professores, jornalistas ou publicitários.

Como fazer, então, para evitar ambiguidades, obscuridades, para não escrever sobre “gelo solar” sem querer?

É necessário refletir um pouco. Se não existe gelo solar, o que o autor da notícia quis dizer? Consideremos o contexto: trata-se de uma máquina que visa a produzir gelo a fim de conservar alimentos na Amazônia sem usar energia elétrica ou combustíveis que deixem resíduos na natureza. Então, a máquina é movida a energia limpa, ou seja, eólica ou solar. Ah! É uma máquina de gelo movida a energia solar.

 Acrescentar a expressão “movida a energia” não vai deixar a manchete longa demais, e sim mais clara para o leitor.

Tendo sempre em mente a clareza da mensagem, para que o receptor (leitor, ouvinte) a compreenda sem dúvidas, lanço aqui uma proposta: como poderíamos escrever o rótulo de um produto novo no mercado, o “leite de cabra em pó”?

Comente e deixe sua sugestão!

Uma dica: conhecer adjetivos e locuções adjetivas ajuda bastante.

3 comentários:

  1. Ana Regina H Carrenho4 de maio de 2014 às 20:49

    Beleza de texto! Requintado, leve e muito, mas muito bem humorado! E que lição para os "mancheteiros" incautos. Brincando com a língua é um nome bastante adequado para o que você faz para ensinar de forma divertida! Parabéns, Therezinha Hernandes!

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  2. Boa chamada de atencao a todos nos, Therezinha. Devemos estar mais atentos para expresar corretamente o que queremos dizer. Obrigada!

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  3. Therezinha,excelente texto que mostra a importância da comunicação precisa em todas as áreas das relações humanas, onde é muito importante passar com precisão nossas ideias e o que desejamos. Gostaria de ressaltar também a importância linguagem adequada nas ciências exatas como nos trabalhos científicos.
    Parabéns

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