Por Therezinha Hernandes.
Passeando pelo Facebook no
feriado de 1.º de maio (sim, adoro ler, amo gramática, mas não descarto a
tecnologia), deparei-me com uma notícia que me despertou várias reações:
“Máquina de gelo solar na Amazônia”.
A primeira foi de interesse: a
criação de uma máquina de conservação de alimentos na Amazônia. Ótimo! Energia
limpa, conservação da natureza; em uma palavra: sustentabilidade. Uma atitude
louvável, sem dúvida, merecedora de toda seriedade.
Logo em seguida, porém, veio a
estranheza: é uma máquina de gelo solar.
Oi? Hein? Como assim, “gelo
solar”?
Consequentemente, a terceira reação
foi uma incontrolável explosão de riso, pensando no “gelo solar”, em como pode
existir gelo numa estrela (algum amigo astrônomo pode me explicar?), em como o
homem teria acesso ao sol para retirar uma eventual peça de “gelo solar”, e
assim por diante.
Passada essa primeira impressão,
foi fácil detectar que a pressa de criar uma manchete, um texto curto e
atrativo que desse uma ideia geral da notícia, acabou causando uma falha de
comunicação.
Temos sido levados a acreditar
que a gramática só tem regras chatas. No entanto, quando trabalhamos com a
escrita, sempre ocorrem situações em que o conhecimento da língua é mais do que
útil – e essa “máquina de gelo solar” é uma prova.
Antes de ir adiante, é preciso
fazer um alerta: engana-se quem pensa não precisar da escrita se for um físico
teórico, engenheiro, médico, executivo de multinacional, biólogo, perito
criminal. Em algum momento, se não frequentemente, será necessário redigir um
relatório, entregar trabalhos acadêmicos, dissertações de mestrado, teses de
doutorado.
A escrita infalivelmente fará parte
da nossa vida profissional, mesmo que não sejamos professores, jornalistas ou
publicitários.
Como fazer, então, para evitar
ambiguidades, obscuridades, para não escrever sobre “gelo solar” sem querer?
É necessário refletir um pouco.
Se não existe gelo solar, o que o autor da notícia quis dizer? Consideremos o
contexto: trata-se de uma máquina que visa a produzir gelo a fim de conservar
alimentos na Amazônia sem usar energia elétrica ou combustíveis que deixem
resíduos na natureza. Então, a máquina é movida a energia limpa, ou seja, eólica
ou solar. Ah! É uma máquina de gelo movida a energia solar.
Acrescentar a expressão “movida a
energia” não vai deixar a manchete longa demais, e sim mais clara para o
leitor.
Tendo sempre em mente a clareza
da mensagem, para que o receptor (leitor, ouvinte) a compreenda sem dúvidas, lanço
aqui uma proposta: como poderíamos escrever o rótulo de um produto novo no
mercado, o “leite de cabra em pó”?
Comente e deixe sua sugestão!
Uma dica: conhecer adjetivos e
locuções adjetivas ajuda bastante.
Beleza de texto! Requintado, leve e muito, mas muito bem humorado! E que lição para os "mancheteiros" incautos. Brincando com a língua é um nome bastante adequado para o que você faz para ensinar de forma divertida! Parabéns, Therezinha Hernandes!
ResponderExcluirBoa chamada de atencao a todos nos, Therezinha. Devemos estar mais atentos para expresar corretamente o que queremos dizer. Obrigada!
ResponderExcluirTherezinha,excelente texto que mostra a importância da comunicação precisa em todas as áreas das relações humanas, onde é muito importante passar com precisão nossas ideias e o que desejamos. Gostaria de ressaltar também a importância linguagem adequada nas ciências exatas como nos trabalhos científicos.
ResponderExcluirParabéns