Por Plínio de Mesquita Camargo.
José Mauro
de Vasconcelos, nos anos 1970, foi leitura para nota no Ginásio, mas a gente
gostava de o ler; do Meu pé de laranja lima obrigatório se ia buscar outros.
Meu pé virou filme em 70, de e com Aurélio Teixeira como o Português, segundo
melhor amigo do menino Zezé, Júlio César Cruz (depois Pedrinho no Sítio do
Pica-pau global). Rosinha minha canoa também se leu para a escola; Coração de
vidro se dava a meninas no aniversário (e se lia na miúda); os mais furões
achavam Arara vermelha (que é filme de Tom Payne com Anselmo Duarte, de 1957,
que vi na TV lá por 1975), uma história de garimpo, Doidão e outros e - o mais
importante - criavam o costume de procurar por um autor numa biblioteca.
Escola
nenhuma dava livro, na ditadura. Livro obrigatório o pai comprasse, como lápis
e caderno e uniforme. Porque ginásio público era para poucos, os leitores não
fizeram de José Mauro um homem rico; ele completava o orçamento com cinema
desde 1941, quando fez pontas em 24 horas de sonho, de Chianca de Garcia, e O
dia é nosso, de Milton Rodrigues, comédias da produtora carioca Cinédia. Antes,
foi treinador de box, carregador de bananas numa fazenda, professor em uma
aldeia de pescadores, começou vários cursos superiores e não concluiu nenhum,
juntou-se aos irmãos Villas-Boas em seu trabalho com os índios brasileiros –
daí resultou, entre outros livros, As confissões de Frei Abóbora, filmado em
1971 por Braz Chediak.
Da paulista
Vera Cruz, atuou na primeira produção, Caiçara (1950), de Adolfo Celi, e no
último sucesso, Floradas na serra (1954), de Luciano Salce; Modelo 19 (de Armando
Couto, 1952) da Maristela, outra efêmera produtora de São Paulo, rendeu-lhe um
prêmio Saci de melhor coadjuvante; para a mesma Maristela, ajudou no roteiro de
O canto do mar (1953), filme de Alberto Cavalcanti, premiado na Europa e
ignorado pelo público no Brasil; esteve em O preço da ilusão (1957), produção
do Clube de Cinema de Florianópolis que, fora da ilha, ninguém viu. Para Walter
Hugo Khouri – diretor e produtor -, atuou em Fronteiras do Inferno (1959), Na
Garganta do Diabo (60, prêmio Governador do Estado de São Paulo, melhor ator) e
A ilha (63); Mulheres e milhões, chanchada tardia (de 1961) de Jorge Ileli,
deu-lhe outro Saci. Mexicanos coproduziram e Tito Davinson, do Chile, dirigiu,
em 1958, Mulher de fogo, baseado em seu livro Vazante. Também foi ator na TV,
em que Meu pé de laranja lima gerou três telenovelas (na Tupi, em 1970, na
Bandeirantes em 80 e 98.
José Mauro
de Vasconcelos foi um dos culpados por eu (e muitos outros de minha geração,
penso) gostar de literatura, e Meu pé de laranja lima (livro e filme)
denunciava a violência de pais contra crianças, num momento em que a violência
da ditadura contra os brasileiros atingia seus auges. Se não foi o primeiro
filme nacional que vi, é o primeiro que lembro onde e com quem vi (aos 13 anos)
e o que achei. Mesmo esnobado pelos críticos, José Mauro vendeu muitos livros e
os teve traduzidos para dezenas de idiomas, até 1984, quando morreu. Então,
esqueceram-no até 98.
Tudo isso é para
dizer que não vi (nem quero muito ver) a mais nova versão fílmica (de Marcos
Bernstein, lançada em 2013) de Meu pé de laranja lima.
Olá, Plínio. Bem legal seu artigo!
ResponderExcluirAbs. Jeosa.
Plínio,
ResponderExcluirQue coluna bacana. E olhe, depoimento de professora com rodinhas nos pés: José Mauro é publicado no exterior e muito muito lido. Mencionado para mim nos mais diversos quadrantes, tem gente fazendo trabalhos sobre ele na Argentina, em Portugal, na Alemanha. Onde eu paro tem alguém que diz que ama, que leu, que amou. Muito obrigada pela coluna (ah, eu vi o filme novo também - qualquer hora a gente fala!).
Muito bom o artigo, apenas uma correção: Mulheres e Milhões, digirido por Jorge Ileli não é uma chanchada, mas um thriller policial muito bem feito e detentor de premios de melhor filme do ano (1961),
ResponderExcluirNão dá para se emocionar com a versão nova do filme... Não dá, não dá. Atores ruins.
ResponderExcluirAmigos! Júlio Cesar que interpretou o Pedrinho do Sítio do Pica-pau amarelo não é o Júlio Cesar Cruz que interpretou Zezé no cinema... São atores diferentes.
ResponderExcluir