segunda-feira, 28 de abril de 2014

O PENSAMENTO VOA - Sobre pequenices

Por Rômulo Reis Cesco.

É interessante... quando o nosso mundo não é mais umbiguista, percebemos que não somos relevantes para nada, apenas mais um número de erre-gê, uma engrenagem a mais ou a menos pra máquina que domina e rege a mim, a você.

Reduzidos à insignificância resignada e consciente, passamos a reparar mais na pequenez do que nos planos grandiosos dos homens; reparar, por exemplo no semblante, daquela criança de colo que dorme tranquilamente nos braços da mãe em um ônibus lotado, ou naquela moça de cabelos curtos que se enterra n'uma pilha de livros interessantes (a meu ver) na mesa de uma certa biblioteca. Ou naquele momento em você está nas escadas rolantes do metrô, em alguma estação do centro de São Paulo, e a cidade se abre como um livro novo a ser compreendido – aqueles prédios abismais dando-lhe a sensação de que você é uma formiga no meio de tantas vidas que se cruzam naquele lugar...

Somos cerceados, moldados para ser um bom homem médio e influenciados a todo momento, mas poderíamos nos libertar disso, ou de uma parte disso, apenas ao buscarmos o essencialmente humano em nós. O observar, o reparar, o tirar um momento para se livrar de pensamentos aleatórios e alheios, de concentrar-nos em todos os aspectos, absorvendo esse momento por inteiro, simplesmente pela beleza da vida real.

Acredito que estamos muito isolados de nós mesmos nesse novo arcabouço de redes sociais, que é um simulacro que vem perpetuando uma vida baseada em acontecimentos futuros:  "vamos marcar" e expressões afins resumem esse aspecto, esse adiamento, esse conforto em se esconder atrás de uma imagem ao invés de se assumir como ser vivente de carne e osso, essa virtualização do amor e da amizade – quando seria muito mais útil se usufruir de um momento a dois, a três, em grupo, em grupos, que seja, utilizando-se da plenitude que são os sentidos para construir lembranças solidárias e verdadeiras, que tenham cheiro e cor naturais.

Os momentos são deliciosos quando sentidos na pele, já a tela da TV ou do computador não é nada mais que um meio de construção de imagens que ficam na memória – pra isso temos mais recursos do que outrora. Experimentemos não nos transportar a toda hora para o mundo virtual, idealizado, onde todos são de bits e bytes.

Olhar para o lado pode ser interessante, mesmo que não seja extraordinário, alguém – imperfeito, mas real, como você e todos nós, pode estar observando o mundo também.

0 comentários:

Postar um comentário