quinta-feira, 17 de abril de 2014

Coluna BRASIS, PORTUGAIS E ÁFRICAS - Crônica inaugural

Por Susana Ventura.


Esta é minha primeira crônica para a coluna semanal Brasis, Portugais e Áfricas e um 'ponto de partida para conversas' que aqui têm seu início.

Lembro o maestro soberano Antonio Candido, que ensinou que a crônica mostra a 'vida ao rés-do-chão', o existir miúdo que é flagrado pelo cronista num instante-chave.  Nesta semana este fragmento de vida que merece estas 'mais ou menos bem digitadas linhas' é representado pela
minha visita a uma escola pública em Santos (SP), a UME Padre Lúcio Floro, para conversar com crianças do Ensino Fundamental.

Semana do aniversário de Monteiro Lobato, a direção da escola escolheu uma autora que cresceu na cidade para falar sobre literatura. E foi momento para contar histórias também, as minhas histórias – escritas com muito respeito - a partir da tradição oral brasileira, tão bem
representada antes de mim por milhares de contadores anônimos e fixada de maneira escrita por gente tão boa quanto Sílvio Romero, Câmara Cascudo e o próprio Monteiro Lobato.

Muita responsabilidade, realmente, foi partilhar o reconto  'O bicho folharal', história que me fazia gargalhar aos quatro ou cinco anos e que só muitos anos mais tarde percebi ser, também, um libelo contra a opressão.



Ao reescrever a história, há dois anos, eu dialoguei com o meu próprio passado e com as versões escritas que encontrei. Já ao contar a minha história na segunda-feira para as crianças - não ler, contar -  o laço com o universo oral foi retomado. Os olhos brilhando e as risadas a cada episódio em que o esperto macaco engana a onça me acompanharão pela semana.


Susana Ventura é doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, professora do Ensino Superior e autora de ficção, ensaios e obras para formação de professores. Todas as quinta-feiras escreve a coluna Brasis, Portugais e Áfricas para o blog da editora Nova Alexandria.


Confira os nossos títulos relacionados:
      






4 comentários:

  1. Susana, a menção a Antonio Candido, logo no incío, agradou-me muito. Lembrei-me de André Bueno (professor "peso pesado" de Teoria da Literatura da UFRJ); lembrar é bom !!! Refiz caminhos ao ler sua crônica. Imaginei minha mãe adolescente a ler Monteiro Lobato (quando o trabalho não era cobrado) refugiada no escritório-biblioteca de uma casa. Ah! sua crônica é muito bem escrita. Adoro crônicas, gosto de me sentir "ao rés-do-chão" !!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eula,
      Muito obrigada pelo acompanhamento da coluna! Também eu gosto de crônicas e cronistas fizeram parte da minha formação de leitora. No meu caso, pela coleção 'Para gostar de ler' idealizada por Jiro Takahashi e que mudou a vida de milhares de crianças leitoras. Antonio Candido é maestro soberano - para ler e reler e reler. Abraço,querida!

      Excluir
  2. Susana, uma das minhas paixões na vida é o folclore, brasileiro e de outras terras. Tem sido muito prazeroso acompanhar sua trajetória nessa seara, retomando as delícias da tradição oral dos países lusófonos. É com grande satisfação que, agora, vejo você abrindo essas portas para os leitores também por meio das suas crônicas, que podem ser escritas "ao rés-do-chão", mas também no jirau, na capoeira, ao pé de um fogão a lenha - qualquer desses lugares em que a imaginação popular fez sua morada. Viva!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. TT, que coisa boa saber que você está acompanhando a coluna também! Sei que você leu 'O príncipe das palmas verdes' e 'O tambor africano'. Superobrigada e vem coisas novas e boas por aí! Abraço!

      Excluir