Por João Caetano do
Nascimento.
Vivemos dias tempestuosos em que a disputa política toma
grande parte de nosso tempo, de nossas reflexões e ações. Pelo menos de velhos
militantes de esquerda como eu. O meu
coração, corpo e mente reservam energias para ajudar a garantir que avanços e
conquistas sociais, obtidas a duras
penas, não retrocedam.
Seria, portanto, uma traição às minhas convicções tecer
considerações neste espaço sem ressaltar
que os destinos do Brasil e de nossa gente
estão em jogo no dia 26 de outubro, quando teremos mais uma batalha
dessa longa luta política do nosso povo pelos seus direitos básicos de
cidadania.
Acompanho essa luta com apreensão, mas também com certo otimismo. Sinto o pulsar de um novo
Brasil há alguns anos. Assim como sinto um, ouso dizer, renascimento cultural. Vejo
surgir em todos os cantos as mais diversas manifestações artísticas com um vigor impressionante. São poetas,
romancistas, contistas, músicos, cantores, artistas plásticos, gente fazendo
teatro e até cinema, numa diversidade encantadora e até assustadora pela força
viva que traz em si.
Sem querer ser profético, mas baseado na já não tão curta
vida, creio que algo novo e duradouro há de resultar desse turbilhão que
arrasta a gente.
Como nada surge do nada, esse renascimento cultural está
diretamente ligado às mudanças que o Brasil viveu nos últimos anos, da
conquista da liberdade e da busca de um rumo e na batalha pela reparação das
injustiças sociais e da redução de nossas desigualdades.
Todas essas coisas fazem aflorar contradições, preconceitos
e muitas vezes incompreensões. A arte e os artistas não ficam imunes, embarcam nessa onda, discutem com entusiasmo, tomam
posições ou até escondem suas posições, numa visão equivocada de arte acima das
contingências cotidianas, como se o artista não fosse ele também um cidadão.
Há, no entanto, um clima de maior liberdade nos debates e
confrontos de ideias, muito diferente dos tempos sombrios de meus anos verdes,
quando fazíamos arte como instrumento de resistência contra a ditadura militar.
Hoje, nos definimos e tomamos lado e defendemos nossas convicções às claras.
De minha parte, acredito que as mudanças sociais e
econômicas na vida brasileira influenciaram diretamente o surgimento de tanta
gente fazendo arte e cultura, até nos subúrbios mais pobres, onde as pessoas
começaram a se descobrir como cidadãs, com deveres, mas também com direitos e
querem e lutam por seu lugar ao sol e de virar este mundo, como diria a velha
música, em festa, trabalho e pão.
Essa é uma conquista que não pode e não vai retroceder,
assim como o Brasil irá prosseguir no seu
caminho rumo a uma sociedade mais justa, livre e democrática. Meu sonho
de jovem e o sonho de tanta gente há de se tornar realidade.
É isso aí.

0 comentários:
Postar um comentário