Por Susana Ventura.
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Almeida Garrett |
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Não resisto a citar:
‘Todo o drama e todo o romance
precisa de:
Uma ou duas damas.
Um pai.
Dois ou três filhos, de dezenove a
trinta anos.
Um criado velho.
Um monstro, encarregado de fazer
as maldades.
Vários tratantes, e algumas
pessoas capazes para intermédios.
Ora bem; vai-se aos figurinos
franceses de Dumas, de Eug. Sue, de Vítor Hugo, e recorta a gente, de cada um
deles, as figuras que precisa, gruda-as sobre uma folha de papel da cor da
moda, verde, pardo, azul - como fazem as raparigas inglesas aos seus álbuns e
scraapbooks, forma com elas os grupos e situações que lhe parece; não importa
que sejam mais ou menos disparatados. Depois vai-se às crônicas, tiram-se um
pouco de nomes e de palavrões velhos; com os nomes crismam-se os figurões, com
os palavrões iluminaram...(estilo de pintor pintamonos). E aqui está como nós
fazemos a nossa literatura original.’
Garrett foi o intelectual que introduziu o Romantismo em Portugal e
também fundou o teatro em terras lusas. Além disso, foi um escritor de
excelência em vários gêneros, às vezes trabalhando com um elenco de personagens
e elementos históricos bem similares aos que ele descreveu no trecho que
reproduzi acima.
Observando a programação oficial da FLIP ouso fazer uma pequena lista de
elenco, à maneira de Garrett:
1, 2 ou 3 jovens escritores –
quanto mais jovens melhor (bonitinhos, de preferência)
1 ou 2 escritores da terceira
idade (não mais que isso, porque ninguém vai a festival para ver velhinhos)
Umas poucas escritoras – quase que
só para constar (ah, e nada de mulher feia, por favor... se houver ‘alguma’
muito bonita, sim, sim!)
Escritores polêmicos o quanto
baste (há questões candentes, guerras iminentes ou passadas? É neste
ingrediente que ficará provado que a curadoria é antenada)
Um punhado de jornalistas,
antropólogos e sociólogos que escrevem, espalhados pela programação (para
fornecer colorido e frescor ao conjunto)
Algum representante de minoria (à
escolha)
(Muito cuidado para evitar os
gagos, os tímidos, os obesos, os feios, os muito esquisitos...)
Mescla-se tudo bem. Escolhem-se,
como guarnição, alguns moderadores corretos, simpáticos, que saibam medir
tempo, que se lembrem de fazer contato visual com o pessoal de apoio e que
saibam o que fazer com as questões que chegam e... ufa, temos o básico!
No caso da lista de personagens do narrador do romance de Garrett, com
ela se podem construir ótimos dramas e romances ou obras protocolares,
destinadas a cumprir a ânsia social por novos livros nos gêneros ‘do momento’.
Na FLIP dá-se o mesmo...
Em São Paulo, na Livraria da Vila, dois escritores participantes da FLIP
estiveram à conversa com professores/mediadores e público numa programação imediatamente posterior à realização do
Festival (dias 4 e 5 de agosto, dentro da programação Pós-FLIP). Eleanor Catton
e Almeida Faria falaram para uma pequena plateia de interessados e foi muito
bom, com uma densidade e profundidade bem diferentes das alcançadas em suas
apresentações no festival.
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