Por Susana Ventura.
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Poster FLIP 2014. |
FLIP 2014. Viajei a convite de uma amiga romancista e tinha como única obrigação a felicidade. Como tenho vocação para a alegria, não foi difícil ser muito feliz.
Eu ansiava pelo reencontro com amigos queridos, que
vivem em
outros Estados e por isso é quase impossível encontrá-los fora do
universo virtual.
Não levei nenhum livro comigo (!). Eu, que não consigo nem
tomar o metrô para viajar duas estações sem carregar livros...
Confesso que gosto da ideia de festivais literários e também
de toda e qualquer proposta que coloque no mapa do imaginário individual a
possibilidade de atividades mais produtivas do que ir a centros comerciais
comprar coisas.
Não sou purista, subo num palco parte do ano, em parceria
com músicos, grafiteiros, atores, videoartistas e quem mais surgir, para falar
sobre literatura, ler e dialogar com produtores de outras linguagens.
O que as pessoas farão com isso – quantas vezes me perguntam
isso? – não está sob meu controle. Faço o que faço acreditando que existe a
possibilidade de que alguém vá chegar aos livros porque esteve ali naquela
noite. E me contento.
Desta maneira, não subestimo o poder simbólico de um
festival literário, que pode ser capaz de fomentar o interesse em torno de
escritores, livros e leituras dos mais diversos tipos... ou ser apenas uma
forma de entretenimento cult. A recepção está fora do âmbito de quem idealiza e
realiza o festival.
Pois bem, este é um balanço muito pessoal e não pretende ser
mais do que isso. Acompanhei o que tive vontade, regida pelo desejo de estar
próxima de pessoas do meu universo afetivo e, claro, pela vontade de ouvir
gente que conhecia somente da página escrita.
Estive dentro da
Tenda dos autores uma única vez: para ouvir Almeida Faria e Jorge Edwards, numa
das mesas do último dia. Também aproveitei os bons e democráticos telões espalhados
por ambientes diferentes para ouvir algumas das pessoas que me interessavam, em
diferentes sessões. Louvo a democratização trazida por telões (ao lado da
Igreja Matriz, a transmissão era sempre em português, ouvindo-se a tradução
simultânea apenas, em caso de estrangeiros; do lado de fora da tenda havia
espaços para ouvir somente nas línguas originais e outros, onde aparelhos para
ouvir a tradução simultânea estavam disponíveis).
Uma instituição financeira patrocinou a distribuição de
leves e práticos banquinhos de papelão, com alças, que podiam ser levados para
qualquer lugar (apossei-me de um e ele teve boa serventia).
Os espaços infantis – pés de árvores, biblioteca, tenda da
FLIPINHA - estavam lá. (Credo, que frase
esquisita! Pois bem, é isso, cumpriram seu papel, merecem louvação pela boa
interface que estabeleceram com a comunidade ao longo dos anos. Mas eu queria
mais... ânimo da monitoria, vontade de conversar, capacidade de dar
informações. E que o elenco de autores, na fala final, na ansiedade por
estabelecer link com a obra do homenageado Millôr Fernandes, pudesse ter
evitado escolher trechos da obra do autor que falavam sobre sexo, adultério,
corrupção e quejandos para dialogar com uma plateia de pessoas com crianças
pequenas. Foi difícil para mim ouvir autores de literatura para crianças e
jovens dizendo: ‘Tá vendo, aqui, essa fala sobre corrupção do Millôr? É, o
Brasil NÃO MUDOU NADA.’ Teve até autor reclamando do pagamento de imposto de
renda...e usando Millôr, claro! Como contraponto houve a bela fala de Roger
Mello, com competente mediação de Volnei Canônica e os vários encontros
intimistas entre crianças que vinham das escolas locais e autores. Fui a um
desses encontros matinais, na biblioteca infantil, para conhecer uma autora que
eu admirava há tempos. Éramos só duas adultas ali, além da palestrante e da
equipe, e foi ótimo de verdade!).
Alguns dos melhores momentos da FLIP aconteceram no circuito
paralelo, em que inovação, acolhimento e circulação de ideias se conjugaram.
Entre as inúmeras casas de editoras, destacaram-se pela beleza: o espaço SENAC,
a casa do Instituto Moreira Salles, a casa/galeria de arte da DSOP. Esta última trouxe originais de seus
ilustradores mais representativos da área de literatura para crianças e jovens
e fez a diferença. Além da possibilidade de ver as obras e encontrar os autores,
encontrei acolhimento caloroso e amigo, e senti o interesse em conversar e
falar de livros, de autores.
O SESC Paraty foi a segunda galeria de arte/ ilustração
infantil. A mostra com obras muito representativas, de ilustradores brasileiros
e estrangeiros, estava belamente exposta. Havia catálogo específico, monitores
interessados em acompanhar cada visita, observar as telas, conversar, trocar
ideias com os visitantes. No jardim interno da casa havia livraria, sofás,
mesinhas e era servido café aos visitantes.
A programação do SESC foi variada, com performances, shows,
e várias mesas de grande interesse. Ali
passei algum dos melhores momentos da FLIP, em encontros bem pensados e,
em sua maioria, com moderadores realmente excelentes.
Ainda merece destaque a casa da editora Rocco, com pessoal
interessado, discussões interessantes, moderadores bacanas, lugares para se
sentar, ler, descansar. Um dos poucos pontos com bom wi-fi na cidade e aberto
aos visitantes.
E por falar em moderação, esta coisa aparentemente
desimportante, mas que pode fazer com que uma mesa seja realmente inesquecível:
ai! Alguém, por favor, proponha uma oficina que ensine mediação e moderação.
No circuito oficial e alternativo, vários moderadores
seguiram a ‘escola’ ‘Falaê do seu livro’.
Pessoal? Vocês ainda estão aí? Não funciona assim, tá? O moderador
existe para ler as obras, interagir com os autores e dirigir, efetivamente, os
trabalhos. E, se for necessário, tentar conter os loucos de palestra...
Nesta modalidade, as mediações excelentes de Suzana Vargas
(na Casa Libre/Nuvem de Livros) e de Maria José Duarte (no SESC), foram os
pontos altos, conduzindo mesas que foram excepcionais.
Para mim, a surpresa e o destaque, notável sob muitos
aspectos, foi a pequena e muito acolhedora casa da LIBRE (editoras independentes)/Nuvem
de livros. Café sempre fresco, lugar para sentar-se, banheiro limpo e acessível
aos visitantes (coisa rara na cidade), degustação de tapioca oferecida com
cardápio e tudo. Bastava ficarmos algum tempo na casa para um dos editores
oferecer a boa tapioca, trazer o cardápio, fazer indicações. Entre o exame dos
livros das diversas editoras que estavam expostos ali (comprei um dos meus na
Livraria Paraty e coloquei na estante) e a conversa amiga, esperava-se pelas
rodas de discussões ou por outras atividades. Ali brilhou a melhor mediadora da
FLIP, Suzana Vargas, aconteceram as ótimas conversas sobre opções em
bibliotecas digitais, houve saraus e shows bacanas e, ponto alto, falou o querido Antônio Torres para as muitas
pessoas que se amontoavam na sala, felizes. Quase todos eram leitores da obra
do autor e vinham de vários Estados do país. Houve quem assistisse pela janela
do lado de fora. Dos espectadores que não couberam na casa também surgiram boas
questões, que foram respondidas por Torres com a simpatia habitual.
A pequena casa foi o ponto certo de encontro e de diálogo.
Além disso, teve a ecobag mais bonita
da FLIP (ao lado daquela da Revista Piauí, destinada a assinantes). Só que a
sacolinha da LIBRE/Nuvem de livros era oferecida ao público, que nem precisava
pedir por ela...
Este é o meu balanço de 5 dias incrivelmente intensos. Mas é
só a minha opinião...
E que opinião!!!!! O Diário da Musa da Flip. Beijos, Susanita.
ResponderExcluirSuper obrigada, Tom! Foi uma FLIP muito legal mesmo! Abraço da Susana
ResponderExcluirOi, Susana. Adorei seu texto. Que bom lembrar da Flip pelo seu olhar! Fiquei feliz em ver você por lá. Beijos!
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