Por Therezinha Hernandes.

Porém, algumas dessas notícias
nos deixam confusos. A mais recente é esta, encontrada num sítio da internet:
“O
humorista Fausto Fanti,
que fez o Renato da dupla Hermes e Renato na MTV, foi encontrado morto em seu
apartamento na cidade de São Paulo nesta quarta-feira, 30. De acordo com o
jornal SBT Brasil, o corpo do rapaz teria sido encontrado no banheiro e com um
cinto enrolado no pescoço pelo amigo Adriano
Silva.”
Afora ser lamentável a partida de
alguém tão jovem, resta ainda uma dúvida: o corpo foi encontrado pelo amigo
Adriano Silva, ou o cinto foi enrolado no pescoço pelo amigo?
Não estamos nem de longe
insinuando uma situação inexistente. A redação do texto é que dá margem a essa
ambiguidade.
Algo que afirmamos sempre é que,
na fala, a mensagem vem acompanhada de gestos, expressões corporais, diferentes
entonações de voz e outros elementos visuais e sonoros que auxiliam a sua
compreensão com clareza. Já na escrita a coisa é diferente, e por isso
precisamos estar atentos ao modo como redigimos nossos textos.
No exemplo dado, a mensagem
ficaria mais coerente assim: “(..), o corpo do rapaz, encontrado pelo amigo
Adriano Silva no banheiro, estava com um cinto enrolado no pescoço”.
A pressa de dar um furo de
reportagem acaba atrapalhando o redator. Antigamente, quando se usavam máquinas
de escrever, a correção era mais difícil e demorada. Hoje em dia, os programas
de computador facilitam e agilizam sobremaneira essa tarefa, o que nos permite
prestar mais atenção ao que escrevemos.
Vejamos outro exemplo antes de
irmos ao ponto que mais nos interessa:
“O cachorro enterrou os ossos que
encontrou no jardim.”
À primeira vista, parece que o
período nada apresenta de estranho. Mas uma leitura mais acurada revela a
dúvida: o cachorro encontrou os ossos no jardim e os enterrou no mesmo lugar,
ou ele os encontrou em outro lugar e os trouxe para enterrar no jardim?
Numa conversa, bastaria formular
essas questões para o nosso interlocutor, e ele mesmo nos explicaria. Mas, num
texto escrito, não há essa possibilidade, e por isso devemos ser absolutamente
claros ao expor nossos pensamentos.
Uma das situações em que isso se
mostra mais necessário são as notícias de jornal. Para os estudantes, são as
respostas de questões dissertativas e as provas de redação no vestibular.
Então, vamos às soluções.
Na primeira hipótese – o cachorro
encontrou os ossos no jardim -, o texto ficaria mais claro desta maneira: “O
cachorro encontrou os ossos no jardim e ali mesmo os enterrou.”
Na segunda hipótese – o cachorro
enterrou os ossos no jardim, mas os encontrou em outro lugar -, a solução seria
dizer: “O cachorro enterrou no jardim os ossos que encontrou”, ou, se possível,
referir onde foram encontrados os ossos: “O cachorro enterrou no jardim os
ossos que encontrou no porão”.
Imaginemos uma notícia sobre a
doença da “vaca louca”:
“Vacas que recebem carne na ração
frequentemente ficam doentes.”
As vacas em questão recebem ração
com carne frequentemente, ou ficam doentes frequentemente?
Para esclarecer o texto, basta
trocar de lugar o advérbio:
1) “Vacas que frequentemente
recebem carne na ração ficam doentes.”
OU
2) “Vacas que recebem carne na
ração ficam doentes frequentemente.”
Mais um exemplo:
“Enterrado no quintal, meu
cachorro tentava recuperar o osso.”
Quem estava enterrado no quintal?
Meu cachorro, ou o osso?
Desfazendo a ambiguidade mórbida:
“Meu cachorro tentava recuperar o
osso que estava enterrado no quintal.” – Bem melhor, não? Caso contrário, eu
teria muito a explicar aos protetores de animais...
Daqui para a frente, visando a
explicar como dar maior clareza, coesão e coerência aos textos escritos, vamos
iniciar um estudo sistemático da gramática, não como um balaio de gatos cheio
de regras, mas como demonstração da lógica da língua.
Afinal, antigamente a análise
sintática era chamada de análise lógica – e não era sem motivos.
Abraços e até a próxima.
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