Por Roniwalter Jatobá.
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Antiga fábrica de chocolates Kopenhagen. |
— Vamos por aqui .
Entramos na Rua Professor Tamandaré Toledo. É uma rua
pequena , estreita ,
de mão única .
Sabia de sua existência
porque toda
terça uma feira
ocupa seu asfalto ,
colorindo-o de barracas , bugigangas , verduras
e frutas . Tem apenas
um quarteirão .
De um lado ,
prédios residenciais; de outro , há uma comprida
e antiga parede
lateral , que
é o que resta
da antiga fábrica
de chocolates Kopenhagen.
— Sente o cheiro ?
– indaga o amigo .
— Nada
mesmo ? – quer
de novo saber .
— Pastel ?
– arrisco pensando na barraca do japonês no dia
de feira .
— Não .
— Sinta também ,
companheiro ! – e aspira com força e alegria . -- Sinta o cheiro
de chocolate .
Acho que ,
provavelmente, fui me influenciando pelo agradável bate-papo . No caminho
de volta , descendo a Rua Joaquim
Floriano, sinto um forte
cheiro de café
socado no pilão , e coado na hora . Sinto também
outros cheiros
da infância e, longe ,
bem longe , o odor inconfundível
da cana-de-açúcar , do melado da garapa
e do borbulhar da rapadura
já quase
sólida em
tachos de cobre .
O amigo me conta de uma pesquisa
realizada pelo Monell Chemical Senses Center, na
Filadélfia, Estados Unidos:
— Uma equipe de norte-americanos
reuniu 30 pessoas de ambos os sexos
– conta ele .
– Todos voluntários .
Eram crianças , jovens
e idosos , com
idade que
variavam dos três aos setenta anos . Durante dez horas , todos eles ficaram com
um pedaço de gaze preso às axilas , para fornecerem amostras do cheiro
de seus corpos .
— Meio nojento, não
é? – dou meu palpite .
– Já pensou se eles
não gostassem de tomar
banho , igual
àqueles franceses que
têm sete anões
mortos debaixo
de cada braço ?
O amigo faz pouco
caso da brincadeira .
Continua:
— Eles
não podiam usar
perfumes ou
desodorantes nem comer
alimentos de aroma
forte nos
quatro dias
que antecediam a coleta
das amostras . Banho ,
sim . Podiam tomar
banho com
sabão inodoro
e xampu .
— E aí ?
— Aí , os pesquisadores
pediram que mais
de 300 estudantes universitários
respondessem a um questionário
para avaliar como eles
estavam de bem com
a vida . Depois ,
cada estudante
cheirou um pedaço
de gaze , sem
saber qual a origem do odor .
Finalmente , todos
responderam novamente a um questionário de
avaliação de humor . De acordo com as respostas , o humor
de quem tinha
cheirado amostras retiradas
das axilas de mulheres
idosas era significativamente
melhor . Quem
foi exposto ao “aroma ”
de homens jovens ,
por outro
lado , ficou deprimido. Conclusão : pelo cheiro você pode indicar um estado de espírito .
Comento com o amigo que há algum tempo li algo
num jornal abordando o mesmo assunto . Segundo a reportagem, o cheiro
tem a capacidade de atrair
a pessoa certa
e afastar as indesejáveis .
Dizia ainda que havia uma combinação química entre os sexos, baseada em
cheiros, o que ajudaria muito a explicar, por exemplo, o fenômeno do amor à
primeira vista.
No caminho até o escritório continuo a sentir
outros cheiros :
manga madura ,
terra molhada
de chuva , água
em queda da cachoeira e, principalmente ,
uma primeira namorada. Chamava-se
Clarice. Durante todo
o expediente da tarde
burocrata , lembro fortemente
que , em
qualquer hora
do dia ou
noite , ela
cheirava sempre à suave fragrância
do alecrim do campo.
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