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Prof. Sirlene. Ao fundo, Carolina: grande mulher, grande escritora do Brasil. |
Por
Sirlene Barbosa.
Quando
a apresentei, ouvi risos, zombarias, comparações tipo: – olhe a sua mãe!!!
(risos... muitos risos...).
Sim, uma preta, numa favela diferente da que eles
moram (bem pior, até porque eram os anos 1950... em 2013, as coisas mudaram).
Ela
não tinha a mesma “classe” que o tal Machado nem o Aluísio, muito, mas muito
menos que a tal Clarice que a tal professora da sala de leitura os
apresentou... O Mário do Macunaíma e o Machado da Capitu são “brancos”, assim
como a Cecilia e o Manuel... Difícil, eu sei. Minha atitude? Desconforto total,
mas misturado com muita indignação.
Questionei-os:
– Por que estão rindo? – Por qual motivo? – O que está acontecendo? Os
estudantes passaram, então, a me ouvir. Devem ter se lembrado de que para falar
de Carolina, mostrei a mesma paixão que tive para apresentar Poe, Cammus, Lima
e Clarice... Será? Eu não sei bem. Constatei, no entanto, o desprezo que a
ex-catadadora de material reciclado sentiu na pele, morando na Favela do Canindé
nos anos 1950, com três filhos para criar e só neste mundo doído e desigual.
Entendi
que os que riram não queriam se identificar com ela ou com o mesmo universo
dela – escarneço para me sobrepor ao meu igual, pois oprimindo eu me
sobreponho; sou, portanto superior.
Consegui,
no entanto, ler Quarto de despejo,
discuti e promovi leitura entre a turma. Foi interessante e alguns deles se
emocionaram (sim, repito: alguns se emocionaram).
Bem,
comprovo, por meio deste texto curto, que Carolina Maria de Jesus ainda sofre o
preconceito que sofreu no bairro paulistano de Santana, em sua Casa de alvenaria.
E
o que ela mostrou em Diário de Bitita
se comprova: o descendente “claro de negro”, nossos famosos marrons, mas de
cabelo liso, com traços “de branco” e, muita das vezes, branco, não se
identifica como negro e quer distância dessa descendência.
Triste...
mas a arte pode curar isso.
Difícil,
devagar... mas eu não deixo de acreditar num mundo onde as pessoas consigam ler
mais e melhor uns aos outros.
E
como sempre: viva a boa literatura!

DICA DE LEITURA:
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