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Felipe Panfili/AgNews/Divulgação |
Por Susana Ventura.
Estou triste. Perdemos de 7 a 1 para a Alemanha, escrevendo
nova página inacreditável da história do futebol.
Ontem eu já tinha escolhido ver o jogo sozinha pela primeira
vez nesta Copa. Trabalhei cedo, almocei na rua e voltei para casa, onde me
preparei. Mandei o SMS do costume para um amigo torcedor que vive do outro lado
do país e liguei a internet ruim que tenho em casa.
Dei uma volta ao mundo pela rede social, curti os amigos.
Dois queridos se fotografaram juntos, ela esticava a bandeira e exibia o
sorriso largo, ele ostentava óculos engraçados que cobriam seus olhos
bonitos. Outros dois, pai e filho,
postaram a partir do estádio, felizes e encheram meu coração de alegria.
O jogo começou e não é preciso que eu seja cronista daquele
primeiro tempo...
Mas o pior ainda estava por vir e, para mim, não veio
daquele coliseu em que fomos desesperadoramente massacrados. Mesmo com o sinal
vergonhoso de internet eu fui atingida por aquilo que teve o condão de me
deixar ainda pior.
O que dizer diante da informação de que, bem perto da minha
casa, um grupo queimava a bandeira do Brasil? E da comemoração imediata de
vários dos que torciam ‘contra’ e que,
naquele intervalo, postavam na rede social seu ‘alívio’ no estilo ‘que bom,
agora o POVO vai cair na real e o país vai voltar ao normal...’
Muitas palavras em torno de ‘pão e circo’ celebravam a
tragédia em andamento. A mesquinharia de negar o prazer ao outro, associando
sempre a alegria à alienação me atingiam em cheio.
Segundo tempo e,
depois, ainda com o Brasil se retirando de campo, fui de volta para a
internet.
A decepção ainda não havia terminado para mim: em tão curto
espaço de tempo já se havia procurado e encontrado a quem atribuir a culpa: ‘A
culpa é TODA de...’, já se havia buscado também por ancestrais alemães. Houve
quem achasse um trisavô, de quem sequer sabia o nome e se afiliado a ele,
reivindicando o DNA dos vitoriosos.
Começava a aparecer para mim a necessidade de ter razão e a
de ganhar sempre, a qualquer custo.
Este amor não serve? Ok, vamos abandoná-lo e largar seu
cadáver ainda insepulto. Comecei a ter medo, real, da gente que se recusava a
sentir a dor que deveras deveria estar sentindo e se jogava desesperada em
outras direções.
Os heróis absolutos até ali se tornavam ‘vagabundos’ que não
honravam o salário recebido e mereciam o rancor. Aparecia exposto o desejo de
que ficassem na miséria, que tivessem que andar pendurados nos ônibus ao final
de jornada de trabalho exaustiva e mal paga!
Pior, parte daquela massa de gente abandonava o barco e
corria para a rede social para falar da próxima paixão, da próxima vitória
esperada: a política. Na mesma chave de interpretação dos que buscavam em si
alguma genética que possibilitasse estar no lugar dos vencedores.
Saí, fui tomar ar e pelas ruas do meu bairro, feio como de
hábito e ainda deserto na noite de ontem. Caminhei triste demais, me dando
conta do medo que eu tenho de quem não goza quando está gozando e não sofre
quando está sofrendo.
Aprendi há tempo que, na época em que temos a colheita da
uva, em que estamos na lida e no processo, até a lavagem dos cestos ainda é
vindima. O trabalho termina somente quando lavamos os cestos em que colocamos
os cachos, os secamos e guardamos até o próximo período.
Não saímos no meio da colheita atrás vindimar as uvas doces de
outro lugar largando a nossa casa, a nossa terra, a nossa parreira, os nossos
parceiros. Não maldizemos a terra, a uva, as ferramentas, os adubos, o sol, a
chuva, os vizinhos, pela colheita ruim ou pela uva amarga.
A Copa continua, continuamos na Copa, temos jogo no sábado
para disputar o terceiro lugar, honroso sim. Ainda é tempo de vindima e, no
entanto, onde estamos?
Susana, minha querida, novamente você foi diretamente à jugular: a grande chaga do mundo não é perder um jogo, mas a síndrome do imediatismo, do descartável. Se não está bom, vamos trocar por um modelo novo, pouco importando se se trata de um aparelhinho eletrônico ou de uma relação pessoal. Tudo é descartável, inclusive as pessoas que não nos servem mais. Tudo gira em torno de resultados: se não estamos satisfeitos com nossa própria vida, vamos procurar bodes expiatórios, amarrá-los a postes e espancá-los até a morte. Ainda assim, a insatisfação não passará. Quem age ao sabor das marés sempre vai encontrar outro motivo para sair distribuindo sua ira frenética.
ResponderExcluirNessa sua crônica, você mostrou bem essa ferida, que vai doer por muito tempo...
Falta-me palavras para dizer da beleza da crônica. Faço minhas, as palavras que você escreveu, mas poupando apenas um detalhe que você haverá de me perdoar: domingo eu vou nascer alemão, rsrs. Meu sonho era o hexa, não deu, agora me permita essa nova escola. Beijos.
ResponderExcluirDesculpe, leia "escolha"
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