Por Cláudio Henrique dos Santos.
Muitos pais, cada vez menos presentes, delegam para a escola
a tarefa de educar seus filhos. É importante discutir quais são os papéis da
família e da escola na formação das nossas crianças.
A falta de tempo dos adultos, seja pelo excesso de trabalho ou pelos longos
deslocamentos no trânsito e no transporte coletivo das grandes cidades, está
provocando um fenômeno extremamente prejudicial à formação das crianças, que é
a "terceirização" da educação dos filhos para as escolas. As pessoas
estão se esquecendo que educar dá trabalho e que esta é uma tarefa que deve ser
executada pela família e não pela escola.
Ouço cada vez mais, principalmente pessoas da classe média,
dizerem a seguinte frase: “Eu me mato para pagar uma boa escola, tenho o
direito de exigir que ela eduque meu filho corretamente”. Aí me pergunto: será
que essas pessoas não sabem que educar uma criança é uma tarefa que exige não
somente tempo, como paciência, disciplina e aplicação? Sem contar o verdadeiro
trabalho em equipe e a divisão de tarefas entre pais e mães.
Criar um filho faz a gente abrir mão de um determinado
estilo de vida. Acabam os longos encontros com os amigos, as saídas até tarde
no final de semana. Você nunca mais vai dormir até o meio-dia ou ler o jornal
de domingo durante duas horas com um copo de cerveja na mão. Um cineminha ou um
concerto de música? Até pode rolar, mas muito provavelmente vai ser o novo
desenho animado da Disney ou o show do Justin Bieber (meu Deus!). É assim.
Muito prazeroso, recompensador, mas exige comprometimento e paciência. Do
contrário, tem tudo para dar errado.
Sei que estou mencionando o óbvio, por isso, gostaria de
fazer uma reflexão. A formação dos filhos começa em casa. Além de dar a eles
todo o amor e carinho, você deve ensinar a eles primeiramente valores, como
caráter, honestidade, respeito ao próximo. Isso já não é pouca coisa, mas é só
o começo para a formação de um ser humano de qualidade. À medida que eles vão
crescendo, precisam ser orientados sobre religião, cidadania, preservação do
meio ambiente, sexo, educação no trânsito, consumo de drogas. E a lista vai
crescendo.
E qual o papel da escola? Lógico que ela também deve ensinar
tudo isso e o faz, na medida do possível. Mas quando seu filho senta num banco
escolar, ele o faz primeiramente para aprender português, matemática, história,
geografia, biologia, enfim, adquirir todo o conhecimento necessário para sua
formação global. Esse sempre foi, e continuará sendo, o principal papel da
escola.
Acredito que muitas escolas e professores fazem também muito
bem o papel de educadores. Entretanto, como é que nossas crianças vão assimilar
todo o currículo escolar e ainda os valores e os aprendizados essenciais para a
vida que mencionei anteriormente, em apenas quatro ou cinco horas dentro da
escola? Ninguém em sã consciência pode exigir isso, nem mesmo pagando uma
pequena fortuna mensal.
É preciso diferenciar educação de escolarização. Não cabe à
escola saber que música seu filho está ouvindo, o que ele está assistindo na
televisão, qual o conteúdo que ele está acessando na internet, que tipo de
mensagem ele troca com os colegas pelas redes sociais. Também não é ela quem
irá acompanhar o comportamento social do seu filho. Ou saber seus sentimentos,
suas necessidades como indivíduo. E não se esqueça que, por melhor que sejam os
professores, eles são responsáveis por 35, 40, às vezes 50 alunos.
Hoje, com todo o avanço tecnológico, o mundo evolui de forma
extremamente veloz. Com isso, os desafios e perigos se multiplicam também. A
escola acompanha uma parcela dessas mudanças, mas nunca vai substituir a
presença de um pai e de uma mãe, nem mesmo chegar perto disso.
Uma criança precisa de todo o suporte afetivo e psicológico,
mas isso não é tudo. Os filhos necessitam de exemplos dentro de casa, de
acompanhamento, de alguém que vai estar ao lado deles o tempo todo,
compartilhando as conquistas e apoiando nos momentos mais difíceis. Será que
você está dedicando tudo o que pode na educação do seu filho? Pense bastante
nisso antes de fazer suas reclamações na próxima reunião escolar. Se você tiver
tempo de participar dela, é claro.
Cláudio Henrique dos Santos é jornalista formado pela Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, em São Paulo. Desenvolveu a maior parte da sua carreira profissional nas áreas de de Comunicação Corporativa e de Relações Institucionais, principalmente na indústria automobilística. Em 2010 foi morar em Cingapura, acompanhando um convite profissional recebido por sua esposa. Desde então, é sua principal atividade é cuidar da casa e da filha, e dar em casa o suporte que a família necessita. Escreve às terças-feiras a coluna Macho do século 21, no blog da editora Nova Alexandria.
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