Talvez
muita gente não se tenha dado conta, mesmo no meio cordelístico, mas este ano
celebra-se o centenário de nascimento de um dos maiores poetas populares do
Brasil, Manoel D’Almeida Filho (1914-1995). Nascido em Alagoa Grande, na
Paraíba, entrou em contato com a literatura de cordel aos oito anos, quando,
indo à cidade pela primeira vez, em companhia do pai, Manoel Joaquim D’Almeida,
assistiu à performance de um folheteiro.
Com
muito esforço e a ajuda de cartilha, quis aprender a ler para mergulhar no
fascinante universo dos folhetos recém adquiridos numa época em que se
destacavam as figuras lendárias de Leandro Gomes de Barros, João Martins de
Athayde e Francisco das Chagas Batista. Somente em 1936, segundo depõe a
professora Vilma Mota Quintela, já vivendo na capital paraibana, compôs seu
primeiro trabalho, A menina que nasceu pintada
com unhas de ponta e as sobrancelhas raspadas, que reproduzia uma reportagem
sensacionalista sobre um caso ocorrido no interior do seu estado natal.
Em 1940, estabeleceu-se na capital
sergipana, Aracaju, e foi lá que produziu a maior parte de sua obra poética,
que inclui os clássicos Os dois amigos leais, A vitória de Floriano e
a negra feiticeira, Os quatro sábios do reino, Os três conselhos
da sorte e Vicente, o rei dos ladrões. Em 1954, teve alguns de seus
títulos publicados sem autorização pela Editora Prelúdio de São Paulo. O que
era um caso de apropriação indébita rendeu uma grande amizade com o editor
Arlindo Pinto de Souza, que defendeu-se alegando ter publicado as obras para
forçar um contato com os autores. Almeida não apenas negociou outros títulos
como tornou-se o principal consultor da editora que, em 1973 teve o nome mudado
para Luzeiro. E, nesta função permaneceu até 1995, ano em que veio a falecer.
De todos os seus títulos, o de que
mais gosto é A sorte do amor, para mim um dos dez maiores romances de
cordel de todos os tempos. Mas tenho um grande apreço também pela obra Os
três conselhos da sorte, versão de um conto popular que traz ecos do livro
bíblico de Tobias:
Ninguém entende esta vida,
Em tudo existe um segredo,
Surpresa sobre surpresa,
Enredo em cima de enredo
A sorte nunca aparece
Na casa de quem tem medo.
Na casa de Almeida a sorte
apareceu em companhia da musa. E se a primeira o abandonou algumas vezes, a
segunda jamais deixou de acompanhar-lhe os passos.
Grande poeta conheci pessoalmente
ResponderExcluirFoi um baluarte