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Manuel Bandeira, Luís Gama e Manuel Carlos. |
Por Sirlene Barbosa.
A violência cotidiana, com negação de
identidade racial, é reproduzida na escola, quando só é proposta a leitura da
literatura do vencedor. Que país é este que o negro precisa querer ser outro
para não sofrer? Uma educação que reproduz uma história única é omissa e cega.
Por isso, a importância de propor o contato com a literatura negra, por exemplo.
É necessário que o estudante conheça e
reflita sobre as diversas literaturas, inclusive aquela que tem como sujeito um
negro que assume o discurso, deixando de ser o tema e passando a ser a primeira
pessoa do discurso – aquele que fala.
Antonio Candido, a respeito da obra de
Luís Gama, afirma que a literatura negra é aquela que trafega na
Para tanto, exponho a experiência do
diálogo ocorrido entre o poeta Manuel Bandeira e o diretor de novela da rede
Globo, Manoel Carlos. Propus como leitura um poema de Bandeira e um trecho da
novela “em família”, cuja direção é de Maneco (como é conhecido o diretor
global).
Utilizei o poema Irene no céu:
Irene
preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
– Licença,
meu branco!
E
São Pedro bonachão:
– Entra,
Irene. Você não precisa pedir licença.
Após, apresentei um trecho da novela em
que o núcleo foi formado por atores “famosos” e brancos, que juntos
interpretavam uma família rica, tomando café da manhã. Do lado da mesa, em pé,
estava uma senhora negra, trajando uniforme de empregada doméstica, à espera de
qualquer pedido de algum dos patrões.
No poema de Bandeira, o negro é o tema,
não assume o discurso. A negra é preta, boa e está sempre de bom humor; assim
como a de Maneco, pois é preciso expor que uma das personagens brancas passa
pela negra, aperta sua bochecha e lhe manda um beijinho. A negra sorri,
submissa, mas feliz por ter sido notada, em pé, do lado da mesa, aguardando
seus senhores se servirem. Caso essa personagem da novela, a branca, fosse
escrever algo sobre a morte dessa empregada, ela teria como inspiração, com
certeza, o poema de Bandeira.
Esta coluna não serve para criticar o
poeta, ao contrário, Bandeira é Bandeira. Neste poema, porém, ele deu bandeira
e minha função, na Sala de leitura, é a de auxiliar os estudantes a alcançarem
a leitura plena dos enunciados que o rodeiam, ao perceberem quais discursos
aparecem neste ou naquele texto e como eles “conversam”.
A discussão chegou até às propagandas de
cerveja, quando uma estudante acrescentou o quanto é nítido que estas não são,
somente, machistas, mas extremamente racistas. Observou que o negro, quando
aparece, ocupa sempre a função de criado. Quer dizer: a mídia reitera a voz do
vencedor e a escola deve contestar.
Viva a boa literatura!

DICA DE LEITURA
A escola é decisiva na formação da identidade de crianças e jovens. Neste livro de Solano Trindade, a identidade do brasileiro está em questão, a partir de poemas em que a justiça social e a luta contra a discriminação racial se oferecem ao leitor para declamação em voz alta. Leia a sinopse e, clicando nela, vá para o livro.

Ótima reflexão. Sinto tristeza toda vez que vejo atrizes talentosas como a Thalma de Freitas, por exemplo, que é uma puta atriz, cantora e, além de tudo, bonita fazendo papel de empregadinha numa novela.
ResponderExcluirLinda coluna, Sirlene! Vamos falar muito ainda sobre isso - ainda bem. Com o tempo e muito diálogo mudaremos a situação. Aprendo todos os dias com reflexões como a sua. Beijos, Susana
ResponderExcluirLi com imenso prazer a sua coluna, Sirlei. Sempre me incomodou o ostracismo a que foram relegados muitos artistas negros; entre os escritores, meu querido Cruz e Sousa (gosto do Simbolismo e assumo isso).
ResponderExcluirDiscussão importante e muito oportuna.
Avante!
Abraço
Therezinha