“É
melhor fazer a menor coisa do mundo do que dar pouco valor a meia hora do nosso
tempo”.
J. W. Goethe
Todos os dias o metrô segue abarrotado.
Quem utiliza o metrô todo santo dia aprende a ser contorcionista do corpo e da
alma. Nas televisões espalhadas pelo vagão são exibidas propagandas e dicas
variadas. Chega a ser irônico, explico: Outro dia assisti a um vídeo educativo
onde um ortopedista dava dicas de como caminhar da maneira adequada. A legenda
ia aparecendo enquanto a câmera focalizava as pernas de duas pessoas andando
lentamente, o texto era algo como: "Deve-se evitar pisar com a ponta do pé
ou ‘marretar’ o chão, dando pisadas muito fortes.
O correto é primeiro
aterrissar o pé no solo com o calcanhar, rotar e aterrissar a planta do
pé". O problema é que o metrô estava tão lotado, que minha coluna estava
torta, forçada por uma bolsa que vinha de trás, meus pés estavam colados devido
a falta de espaço, minha mochila pesava no meu pescoço, meu nariz quase grudava
na tela, para vocês terem uma ideia. No final desci todo dolorido. Gostaria de
saber o que a direção do Metrô e o ortopedista tem a me dizer sobre a maneira
como as pessoas são transportadas dentro dos vagões. Tenho certeza que está
longe de ser o

Talvez isso explique a expressão cansada
das pessoas dos meus desenhos, dormindo ou de cabeça baixa. Acho que elas não estão tristes, elas
estão exaustas.
Pela manhã, a multidão ainda está
meio que dormindo em pé. Por conta disso, todos caminham como zumbis,
automaticamente, seguindo em fila para o trabalho, como gado açoitado. Quem
vive em São Paulo, acredito, vive uma eterna relação de amor e ódio com a
cidade. Não tem como não notar o ar melancólico que predomina nos vagões. É
como se estivéssemos todos esperando que alguma coisa bacana acontecesse, sei
lá... sacar o sentido da vida, arrumar um emprego digno, uma garota pra dividir
as coisas, o final do ano e toda uma sorte de sonhos que uma pessoa possa ter.
Nos desenhos feitos nos vagões
tento focar mais nas pessoas. Praticamente elimino do meu campo de visão tudo
que julgo desnecessário, excessivo... Não sei bem como essa escolha se dá,
estou tentando prestar mais atenção no processo, mas confesso que tudo ocorre
melhor quando não penso nisso; É mais fácil e agradável quando desenho
automaticamente, sem planejar muito.
Pela janela, as casas vão correndo pra trás, o Sol mais forte agora, recortando
a calçada, vamos observando a paisagem, mas não vemos nada, cada um está em seu
próprio mundo, viajando, mergulhado em pensamentos, vagando, à espera de dias
melhores.
João Pinheiro é Ilustrador, artista plástico, autor de
histórias em quadrinhos e infantis e professor, com livros publicados por
várias editoras. É autor de Kerouac, (2011, editora Devir Livraria)
e O espelho de Machado de Assis em HQ (2012, Mercuryo Jovem, em parceria
com Jeosafá Fernandez Gonçalves). Do Urban Sketchers, em parceria com
Jeosafá tem vários livros infantis publicados, dois dos quais selecionados pela
SEE-SP: Faz de conta no jardim (2010, Mercuryo Jovem) e Um
barco, um passarinho (2010, Plêiade). Publicou quadrinhos nas revistas:
Front (Brasil), Graffiti (Brasil), Hipnorama (Argentina), Inkshot (EUA). Diário
gráfico: http://vagulino.tumblr.com/ - Site: http://jpinheiro.com.br/.
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