quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Antropologia visual: diferença, imagem e crítica

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Na era da cultura imagética e visual fica difícil lidar com a prática científica, a pesquisa, o ensino ou a aprendizagem sem utilizar imagens e vídeos ou se debruçar sobre eles.

Na virada dos séculos XX para XXI assumimos definitivamente que as imagens são também forma de conhecimento e, portanto, envolvem as construções de identidade, as disputas simbólicas e imaginárias, os poderes, as dominações e resistências. Mais que nunca precisamos falar das imagens e utilizá-las em nossas expressões, reflexões e investigações. São destas coisas que Ronaldo Mathias nos fala em seu livro Antropologia visual: diferença, imagem e crí- tica: imaginários, sensibilidades e experiências que podem ser lidos e compreendidos a partir do campo científico e acadêmico.

Este trabalho resgata a tradição antropológica do uso das imagens na compreensão das culturas, da prática da leitura de suas iconografias ou do emprego da fotografia e do audiovisual como ferramentas de pesquisa com a produção de narrativas imagéticas sobre “o outro”. A dimensão estética e as imagens ocupam atualmente papel central nos processos cognitivos e nas formas de abordar e narrar a vida cotidiana contemporânea. As percepções e experiências cotidianas estão nas agendas do consumo e do marketing, assim como nos lazeres e processos comunicacionais; a estética, tanto como constituinte do Homo sapiens, quanto como o jogo da arte da vida comum, estabelece as formas e os instrumentos que permeiam as sociabilidades, as disputas, as identidades e os imaginários.

A cultura imagética está presente e acentuada não só nos mercados editoriais e midiáticos, mas também nos cotidianos vividos. O dia-a-dia e a autorepresentação burguesa foram marcados pela fotografia: álbuns de família, fotografias mortuárias e tumulares condensam os valores e práticas cotidianas burguesas; a emergência da cultura digital trouxe o barateamento e ampliação do acesso às tecnologias de produção e distribuição de imagens, sons e vídeos, alterando cotidianos, relacionamentos, percepções e repertórios, reverberando nas construções das identidades e pertencimentos. Percepções, representações e imaginários entrelaçam-se na vida do Homo sapiens desde o início da espécie, mas nos últimos dois séculos essa articulação tem ganhado novos temperos

Ronaldo Mathias, doutor pela ECA-USP, é professor de Antropologia Cultural e História da Arte na graduação e Arte e cultura na pós-graduação do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. É coordenador do curso de Comunicação Social na mesma instituição. É autor do livro Antropologia e Arte pela Editora Claridade.


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