terça-feira, 21 de outubro de 2014

SP: ZONA LESTE - A arte em dias tempestuosos

Por João Caetano do Nascimento. 

Vivemos dias tempestuosos em que a disputa política toma grande parte de nosso tempo, de nossas reflexões e ações. Pelo menos de velhos militantes de esquerda como eu.  O meu coração, corpo e mente reservam energias para ajudar a garantir que avanços e conquistas sociais, obtidas a  duras penas, não retrocedam.

Seria, portanto, uma traição às minhas convicções tecer considerações neste espaço sem  ressaltar que os destinos do Brasil e de nossa gente  estão em jogo no dia 26 de outubro, quando teremos mais uma batalha dessa longa luta política do nosso povo pelos seus direitos básicos de cidadania.

Acompanho essa luta com apreensão, mas também com  certo otimismo. Sinto o pulsar de um novo Brasil há alguns anos. Assim como sinto um, ouso dizer, renascimento cultural. Vejo surgir em todos os cantos as mais diversas manifestações artísticas  com um vigor impressionante. São poetas, romancistas, contistas, músicos, cantores, artistas plásticos, gente fazendo teatro e até cinema, numa diversidade encantadora e até assustadora pela força viva que traz em si.

Sem querer ser profético, mas baseado na já não tão curta vida, creio que algo novo e duradouro há de resultar desse turbilhão que arrasta a gente.

Como nada surge do nada, esse renascimento cultural está diretamente ligado às mudanças que o Brasil viveu nos últimos anos, da conquista da liberdade e da busca de um rumo e na batalha pela reparação das injustiças sociais e da redução de nossas desigualdades.

Todas essas coisas fazem aflorar contradições, preconceitos e muitas vezes incompreensões. A arte e os artistas não ficam imunes, embarcam  nessa onda, discutem com entusiasmo, tomam posições ou até escondem suas posições, numa visão equivocada de arte acima das contingências cotidianas, como se o artista não fosse ele também um cidadão.

Há, no entanto, um clima de maior liberdade nos debates e confrontos de ideias, muito diferente dos tempos sombrios de meus anos verdes, quando fazíamos arte como instrumento de resistência contra a ditadura militar. Hoje, nos definimos e tomamos lado e defendemos nossas convicções às claras.

De minha parte, acredito que as mudanças sociais e econômicas na vida brasileira influenciaram diretamente o surgimento de tanta gente fazendo arte e cultura, até nos subúrbios mais pobres, onde as pessoas começaram a se descobrir como cidadãs, com deveres, mas também com direitos e querem e lutam por seu lugar ao sol e de virar este mundo, como diria a velha música, em festa, trabalho e pão.

Essa é uma conquista que não pode e não vai retroceder, assim como o Brasil irá prosseguir no seu  caminho rumo a uma sociedade mais justa, livre e democrática.  Meu sonho  de jovem e o sonho de tanta gente há de se tornar realidade.

É isso aí.


João Caetano do Nascimento é poeta, foi participante do Movimento Popular de Arte no final da década de 70 e começo dos anos 80 do século passado. Trabalha como jornalista.



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