terça-feira, 10 de junho de 2014

O PENSAMENTO VOA - Amargo

Por Rômulo Reis Cesco.

 Acredito que fiquemos amargos depois de um certo tempo, quando passamos a ver o quadro geral do mundo/sociedade em que nos encontramos, isso é fato, mas também por outras razões.. O fígado aguenta as noites sem pedir água, mas o coração já há muito enegrece gradualmente por certas paixões findadas, amores que se fogem - essas vezes que se foge porque nos engolfam de todo, não se consegue respirar e noites de encantamento - essas tantas maravilhas de uma só gozada que nunca mais se vê.

Acredito que conforme se acumulam os casos, mais e mais carma vem junto. A amargura do "e se". Depois de um tempo não há racionalidade em se adequar aos joguinhos idiotas de sedução e refrear o impulso de abordagem acaba se tornando natural, visto que com aquele contato, para se conseguir o esboço de uma entrega necessita-se de todo um aparato de regras sociais a serem cumpridas - deve-se haver elogios, deve-se haver mostrado interesse para que se diga o que os olhos e o sorriso de canto de boca já dizem há muito.

Depois de um tempo se cansa dessa perspectiva. Então há uma reserva natural, uma inserção, um mergulho em si, e à cada respirar, um contemplar o mundo com diferentes perspectivas e argumentações. Não há a necessidade de dispensar atenção há outro alguém senão você, e quem vier precisa saber disso - porque uma vez, ou outra nos rendemos à essas convenções sociais. É preciso delimitar o espaço de apreço e tudo não passa de uma amizade.


A paixão é desvairada mas de curta duração, não devemos esperar dos outros mais do que eles são. Essa é amargura do "e se", já houve tantas quebras de arquétipos que se pára de amar imagens pré-concebidas, você se vê admirando a pessoa em todas suas virtudes - essas que você aprendeu a admirar depois de tanto tempo, então se descobre apaixonado... Descubro ser um amargo analítico. O difícil é achar alguém que saiba amar também.

Rômulo Reis Cesco é granduando de Direito pela Universidade São Judas Tadeu. Seus textos de natureza crítica assumem, porém, aspecto poético, e posicionam a condição da humanidade em geral e do jovem em particular sob a luz da reflexão filosófica. Seus textos são um convite ao compartilhamento e à solidariedade.

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