quarta-feira, 14 de maio de 2014

CINEME-SE - A veia que salta

Nas telas da década de 1970, um Brasil e um mundo vão ficando para trás.

Por Plínio de Mesquita Camargo.

Saindo do Guarani às seis a Bahia é uma folha de cobre, viram Tubarão, um povo riu, eles sabiam (sabem) que nenhum cação no mar come mais gente que um barão da terra.

Ter 18 anos e ir ver Amarcord no cinema porque viu na tv Julieta dos Espíritos.

O primo quis Um dia de cão, no fim só ele achou ruim; no outro da cidade era filme brasileiro, ele não vê; era O rei da noite (Hector Babenco), sorte que na volta Tezinho (Paulo José) ainda está no Orly.

Sorte mesmo é encontrar um amigo lá na frente da fila para Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade) de graça, coragem é colar.

O Vietnã está em paz.

Para a mamãe, o best-seller nacional do ano: o Aurélio. Na tv uns americanos imitam os Secos & Molhados.

Nunca é demais Sônia Braga.

Anoiteceram em Copa com sanduíche e cerveja, cedo pra dançar, vão ver Shampoo, coisa irritante canastrão bancando a bicha.

Dizem que o CAL Center é micado desde que, na sala de cima, passou Rock horror show, dizem que o público nunca mais foi embora.

Um estranho no ninho no Gonzaga não foi uma ideia muito boa, discutiram até o hotel e perderam a orla sexta à noite.

David Cardoso e Matilde Mastrangi mostram os peitos por toda a Cinelândia.

O Estadão não tem mais censura, agora pode ser oposição - conservadora. Mas a Globo leva uma rasteira do Cardeal via ditador Geisel e arquiva Roque Santeiro.

Na esfirraria em frente ao Marachá, na calçada gente ri, gente canta, gente imita Tina Turner, depois ou antes de ver Tommy.

Pode-se perder uma amizade por não ir ver a Funny Lady Barbra Streisand. Já por não ter visto Rollerball, nada se perderia.

Os carrascos da ditadura torturaram até a morte, na prisão, o jornalista Vladimir Herzog.

Um michê mata o cliente a pauladas e passa com o carro por cima do corpo. Não é filme, é Pasolini.

Como se servisse de consolo, a múmia Francisco Franco se lembra de virar pó.

O dirigível Hindenburg é bem melhor na capa do Led que na tela.

Angola é livre.

1975 pode ser a gota d’água.

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