Nas telas da década de 1970, um Brasil e um mundo vão ficando para trás.
Por Plínio de Mesquita Camargo.
Saindo do Guarani às seis a Bahia é uma folha de cobre,
viram Tubarão, um povo riu, eles sabiam
(sabem) que nenhum cação no mar come mais gente que um barão da terra.
Ter 18 anos e ir ver Amarcord
no cinema porque viu na tv Julieta dos Espíritos.
O primo quis Um dia de
cão, no fim só ele achou ruim; no outro da cidade era filme brasileiro, ele
não vê; era O rei da noite (Hector
Babenco), sorte que na volta Tezinho (Paulo José) ainda está no Orly.
Sorte mesmo é encontrar um amigo lá na frente da fila para Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade) de
graça, coragem é colar.
O Vietnã está em paz.
Para a mamãe, o best-seller nacional do ano: o Aurélio. Na tv uns americanos imitam os
Secos & Molhados.
Nunca é demais Sônia Braga.
Anoiteceram em Copa com sanduíche e cerveja, cedo pra
dançar, vão ver Shampoo, coisa
irritante canastrão bancando a bicha.
Dizem que o CAL Center é micado desde que, na sala de cima,
passou Rock horror show, dizem que o
público nunca mais foi embora.
Um estranho no ninho no
Gonzaga não foi uma ideia muito boa, discutiram até o hotel e perderam a orla
sexta à noite.
David Cardoso e Matilde Mastrangi mostram os peitos por toda
a Cinelândia.
O Estadão não tem
mais censura, agora pode ser oposição - conservadora. Mas a Globo leva uma
rasteira do Cardeal via ditador Geisel e arquiva Roque Santeiro.
Na esfirraria em frente ao Marachá, na calçada gente ri,
gente canta, gente imita Tina Turner, depois ou antes de ver Tommy.
Pode-se perder uma amizade por não ir ver a Funny Lady Barbra Streisand. Já por não
ter visto Rollerball, nada se
perderia.
Os carrascos da ditadura torturaram até a morte, na prisão,
o jornalista Vladimir Herzog.
Um michê mata o cliente a pauladas e passa com o carro por
cima do corpo. Não é filme, é Pasolini.
Como se servisse de consolo, a múmia Francisco Franco se
lembra de virar pó.
O dirigível Hindenburg
é bem melhor na capa do Led que na tela.
Angola é livre.
1975 pode ser a gota d’água.
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