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Césária Évora, a voz de Cabo Verde. |
Por Susana Ventura.
Minha semana foi pontuada por viagens para falar e ouvir sobre Cabo Verde.
Primeira escala: Ribeirão Preto, na Oficina Cândido
Portinari que trazia cinco das mais representativas vozes da literatura
caboverdiana: Corsino Fortes, Fátima Bettencourt, Vera Duarte, Manuel
Brito-Semedo e Danny Spínola.
Segunda escala: Assis, UNESP, para fazer parte da banca de
mestrado de Bruna Carolina de Almeida Pinto, orientada por Rubens Pereira dos
Santos e concluindo um belo trabalho sobre três romances do escritor
cabo-verdiano Henrique Teixeira de Sousa.
Nos momentos que antecediam o primeiro compromisso,
combinávamos a dinâmica de palco, quando me lembrei de dizer aos escritores que,
em minhas aulas sobre Cabo Verde, sempre tinha sido Cesária Évora a me ajudar,
a oferecer a porta de entrada para o país, sua cultura e sua literatura.
Vera e Fátima se juntaram a mim nas reflexões e passamos a
lembrar o poder das vozes femininas como embaixadoras das culturas. Divulgando
Cabo Verde para o mundo, hoje, lembraram Mayra Andrade e Lura.
Pela música, elas abrem-nos os caminhos, conquistam plateias,
derrubam resistências para que possamos, a seguir, falar de literatura. Vozes,
e sobretudo, vozes femininas.
Nós três estávamos apaziguadas com o fato: por mais que
escrevamos, que falemos, que sejamos capazes de argumentar, a primazia do canto
na conquista das sensibilidades é irrefutável.
Contei-lhes de meus alunos na Casa das Rosas - no primeiro curso que ministrei ali em 2007 - a decorarem as letras de ‘Mar azul’, ‘Sôdade’
e tentarem, por esse ‘método’ aprender rudimentos de crioulo. Conseguiram.
Esta semana prosseguiu, comigo cruzando o Estado em ônibus. Na parada em São Paulo , na
terça-feira dia 20, consegui ir escutar Mísia, a fadista portuguesa que consigo
seguir quando nossas deambulações permitem algum encontro. Novamente tive a
certeza do maravilhoso trabalho em prol da cultura e do conhecimento de um país
que uma voz feminina pode fazer.
Não resisto a partilhar nesta crônica, um percurso por Cabo
Verde que proponho que façam comigo e com Cesária Évora, nossa grande dama dos
pés descalços, com uma pequena ajuda do youtube (clique): Mar azul, São Tomé na Equador, Carnaval de São Vicente.
Aqui temos mesmo um caminho: o mar, presença constante para
o arquipélago, promessa de vida e sinalização de exílio como solução para a
seca; a saudade, daqueles que iam forçados para São Tomé e Príncipe, de terras
verdes e férteis (das 4 canções, ‘Sôdade’ é a mais política, atentem para letra
– há traduções facilmente encontráveis).
A relação de Cabo Verde com São Tomé ficará mais explícita
em ‘São Tomé da Equador’. E como as relações do antigo império luso foram todas
feitas por mar, o pequeno percurso termina no ‘Carnaval de São Vicente’, que
permitem comparar com os ritmos que marcam o Brasil.
Peço ajuda ainda à música para tocar no motivo da minha
segunda escala, falar de Henrique Teixeira de Sousa (1919-20060, médico e
escritor. Escritor engajado, preocupado com as dores humanas e em deixar a
sociedade caboverdiana plasmada em uma trilogia de romances que funciona como
um perfeito mecanismo.
O mais conhecido deles é ‘Ilhéu de Contenda’, uma vez que
deu origem a um longa metragem em 1995, com produção de Paulo de Sousa sob a
direção de Leão Lopes.
Ilhéu de Contenda, o filme.
O filme é pontuado por belas interpretações de... Cesária
Évora!
Mas o que de imediato podemos ter de Henrique Teixeira de
Sousa, uma vez que não temos edição brasileira dos romances e o filme tampouco
é fácil de encontrar?
Uma canção, homônima do romance e do filme, composta em
Portugal por João Monge e Manuel Paulo e interpretada pela banda portuguesa
Ala dos Namorados, com os belos vocais de um dos melhores contratenores desde
sempre, Nuno Guerreiro.
Boa audição, caros leitores. Acho que na próxima semana
haverá fado...a não ser que vocês decidam em contrário!

Ah, Susana...
ResponderExcluirQue texto lindo!
Homens socialmente engajados, e mulheres cujas vozes se misturam à voz da terra. Música e literatura, imagens e sentimento - mistura emocionante revelada a partir de um encontro inspirado.
Que venha, agora, o fado!!!
Beijo grande!!
TT
Oba! Obrigada por acompanhar a coluna TT! E temos um voto para o Fado! (com o meu são dois, e já sei que o Tom Torres é fã também - fado 3 a 0). Beijos e até a semana.
ExcluirHoje te enviei, via Face, u'as músicas interpretadas pela Césaria Évora.
ResponderExcluirSuper obrigada por acompanhar e pelas mornas, Tom Torres. Já fui lá. E acho que você também vota em roteiro de Fado para a próxima coluna, pelo nosso papo FB. Que seja! Fado 3 a 0 (voto meu, o seu e o da TT. Beijos
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