quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Conversa de um encontro que repousa nos sonhos.

Por André J. Gomes. 


Hoje eu fiz tudo errado. Fiz, sim. E já estou pagando por isso. Ouviu esse violino de novo? Esse violino que não para nunca! Ouviu? É um castigo. Fiz tudo errado, agora pago. É assim sempre. Vai, volta. Começa grave, desliza aqui dentro, no estômago, como um sentimento de pesar, e vai subindo, me escalando agudo pelas vísceras até explodir lá em cima, num grito pontiagudo de euforia, um choque que percorre um bilhão de neurônios no espaço de um estalo.

Ah, esse violino.

Toca sem parada como reprimenda, uma tortura cometida por um chinês sádico, uma valsa de inspiração sadomasoquista.

Um violino tocando sem fim, seu som me rasgando cirúrgico aqui. No peito.

Vem, então, violino. Vai, toca. Vai em frente. Rasga. Alegro! Isso. Tem mesmo umas coisas guardadas aqui e elas precisam sair. Aí... vem! Você tocou e eu não interrompi. Agora é hora de me ouvir.

Hoje eu fiz tudo errado. Enchi o copo e o corpo do que não devia. Envenenei o espírito com sentimentos mesquinhos. Hoje fui péssimo comigo mesmo e pior com os outros. Comi tudo o que não é saudável. Senti tudo o que não faz bem. Deixei entrar o que não presta, o que passou da validade. Minha cabeça dói, meu corpo reclama. A cabeça e o corpo resolveram se unir contra mim. Nunca se deram muito bem, não. É preciso reconhecer. Mas agora estão aqui, juntos, jogando na minha cara, latejando nos meus olhos, gritando em coro: toma que a culpa é sua!

A culpa é minha. E sabe o que foi que eu fiz? Sabe?

Hoje eu fiz tudo errado.

Agora eu ouço esse violino, ah... esse violino que não para nunca!

Para Luciana Carnieli e Ricardo Castro, com gratidão e saudade.

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