Câmara Cascudo: trabalho incansável pela cultura popular.
No momento em que parte do público brasileiro tem em casa
DVDs de Walt Disney com animações realizadas a partir de contos de fadas, acompanha pela TV aberta ou em TV a cabo à série norte-americana ‘Era
uma vez’ e que, em anos recentes, viu em suportes diversos filmes como ‘Branca
de Neve e o Caçador’, ‘Malévola’ e ‘Para sempre Cinderela’, parece-me bom
darmos um passeio. Vamos?
Ok, primeiro uma voltinha básica pelas principais livrarias
das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre em
busca de livros ‘com’ contos de fadas. Ah, estão cansados? Tudo bem,
compreendo, é quinta-feira. Deixem comigo, lá vou eu e conto a vocês o que
acontece.
Na livraria escolhida, ao pedir ajuda a um vendedor ou
vendedora, você será direcionado à seção infantil da livraria e ali encontrará
MUITOS livros com capas chamativas, a maior parte em tons de rosa. Após
sobreviver à nuvem rosa (juro
solenemente que, numa livraria de São Paulo, fiquei enjoada de capas ‘rosa
choque’ – devo voltar ao normal em cerca de um ano, caso não seja novamente submetida
àquilo), foi possível chegar a algumas outras propostas, dispersas pelas
estantes: boas traduções, recontos bem realizados, projetos gráficos
interessantes, ilustrações bonitas. No processo de busca, foram encontrados
também alguns livros de Hans Christian Andersen, de exemplares do conto ‘O
patinho feio’ ou ‘A pequena sereia’ em edições ilustradas e voltadas para os
pequenos leitores a edições mais sofisticadas, com um bom número de contos
traduzidos diretamente do dinamarquês.
Mas vou andar um pouco mais, já estou no caminho mesmo, não
custa. Voltinha estendida, passo por livrarias em Buenos Aires, Montevidéu,
Lisboa e Madri. O quadro será bastante
similar. Fiquemos, no entanto, aqui pela América do Sul: o frequentador de
livrarias no Brasil terá certa dificuldade para encontrar, de imediato, obras
de Sílvio Romero, Câmara Cascudo e Marco Haurélio. Mas na Argentina não será
diferente: Susana Chertudi e Berta Elena Vidal de Battini, só depois de boa
procura. No Chile, encontrar de imediato obras de Yolando Pino Saavedra?
Difícil também.
Matutemos juntos... e aproveito para responder a perguntas
frequentes (sim, eu já tenho uma lista de perguntas frequentes sobre o assunto...)
– Charles Perrault e Jacob e Wilhelm Grimm ‘inventaram’ os
contos de fadas? Não.
– Os contos que eles coletaram, ouviram, adaptaram são mais
importantes que os outros que foram publicados por Pitré na Itália, Consiglieri
Pedroso em Portugal ou Chertudi na Argentina? Não.
Ué, então por que só lemos – quando lemos – os contos de
Perrault e Grimm e a maior parte do cinema de animação se baseia somente nos
contos deles, com uma ou outra incursão na obra de Andersen?
Hummm, será que o motivo é que ainda nos pensarmos de
maneira eurocêntrica? E que, dentro da Europa, continuamos estamos de olho no
que dizem os centros de poder simbólico dos séculos XVIII e XIX?
Ai! Será? O que me dizem vocês? Para que lado continuamos
esta conversa: aprofundamos no Perrault e no Grimm (é uma boa) ou partimos para
falar em como nós (não) costumamos
pensar na literatura para crianças? Decidimos no par ou ímpar ou votamos e
ganha a maioria?
Oi, Susana!!
ResponderExcluirÀs vezes acho que fui criada por ETs, pois meus pais compravam para nós, meus irmãos e eu, livros de lendas brasileiras, coleções de contos de vários países, discos da Inezita Barroso e Ely Camargo,e por isso desde criança tive contato com Câmara Cascudo, Sílvio Romero, Assis Chateaubriand (e outros folcloristas). Depois, na adolescência, travei contato com a música de Marlui Miranda. Em boa hora vem o trabalho de resgate de nossas raízes culturais, e certamente será saudável para o nosso público jovem conhecer tradições de outros países. Perrault, os Grimm e Andersen povoam meritoriamente nosso imaginário, mas uma viagem por outras culturas é sempre muito enriquecedor - e nada melhor do que começar pela nossa. Fale mais sobre os nossos folcloristas! Sei que você tem muito a dizer sobre eles...
Um grande beijo e obrigada por partilhar conosco a riqueza da cultura popular.
TT, seus pais eram maravilhosos ETs!!! E a falta que essas referências fazem você nem pode imaginar. Uma vida simbólica vazia faz o percurso humano ser radicalmente mais difícil. Um grande abraço de 1o. de maior e obrigada por acompanhar a coluna.
ExcluirSusana
Susana, sou eu quem agradece a existência da coluna - é um prazer enorme acompanhá-la.
ExcluirAgradeço aos céus também pela minha "abdução" (rsrs), e procuro repetir a dose com meus filhos.
Uma infância sem contos (orais e escritos) não tem alimento para a imaginação. É como ter um brinquedo movido a bateria, que faz um milhão de coisas: ele brinca sozinho, deixando a criança de fora, só observando.
Outro abraço de 1.º de maio pra você!!
TT
Voto pela segunda opção. Nas duas perguntas finais.
ResponderExcluirbjs. Tom
Oba, Tom! Obrigada pelo voto. E vamos em frente! Beijos, Susana
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