quinta-feira, 20 de março de 2014

JOVEM LEITOR - Horizonte perdido: entrevista com um jovem leitor


Ulisses Azevedo Gonçalves
Aluno da ETEC Basilides de Godoy
Lapa, São Paulo

A propósito da nova edição que o grupo Nova Alexandria, pela editora Claridade, prepara para o best seller da década de 1930 Horizonte perdido (Lost Horizon) de James Hilton, entrevistei um jovem leitor a quem foi dada a tarefa, ou o prazer, de ler o romance. Trata-se de Ulisses Azevedo Gonçalves, de 14 anos de idade, primeiranista da ETEC Basilides de Godoy, na Lapa, em São Paulo, mais conhecido como meu filho.

Em que pese a pouca idade, Uli tem já uma larga experiência de leitura, uma vez que deu a sorte, ou o azar, de ser filho de uma professora de língua portuguesa (mestre em literaturas africanas pela USP) e de um também professor de língua portuguesa (doutor nas mesmas literaturas e na mesma Universidade), escritor por insistência – e às vezes por penitência.

Desde o útero, Uli ouviu histórias clássicas da literatura infantil. Quando aprendeu a ler, foi montando sua própria biblioteca. Segue a entrevista:

Jeosafá (Jeosa): Qual foi sua primeira impressão iniciar a leitura do livro?

Ulisses (Uli): Fiquei um pouco confuso, pois do Prólogo ao primeiro capítulo há uma mudança de narrador. No prólogo amigos conversam entre si sobre Conway. O narrador é um, talvez o próprio autor, James Hilton. No primeiro capítulo, já estamos dentro da história de Conway. O narrador passa a ser, descubro voltando várias vezes a leitura, e caminhando adiante nela, que é Rutherford, um dos amigos que conversam sobre Conway no Prólogo.

Jeosa: Isso se chama “narrativa” moldura:  uma narrativa inicial, curta, que introduz o enredo principal, e uma final, também curta, que encerra. É como se fossem parênteses: a história principal ocorre entre as duas.

Uli: É, percebi.
                                                      
Nova edição de Horizonte Perdido.

Jeosa: Que diferenças encontrou em relação aos livros que já leu?

Uli: O tema é mais maduro. O livro não tem tantas aventuras, o narrador se detém nas conversas entre as personagens, detalha os cenários, as ideias, os pensamentos com paciência.

Jeosa: O tema mais maduro ofereceu dificuldade?

Uli: No começo, fiquei um pouco resistente, mas depois que entendi a passagem do Prólogo ao primeiro capítulo, passei a gostar. O enredo traz surpresas, e embora o tema seja mais maduro, a linguagem não tem maiores complicações.

Jeosa: O romance apresenta situações inusitadas. Há algum fato ou situação que você gostou em particular?

Uli: Fiquei surpreso e gostei quando Mallinson acha por acaso a carteira de Barnard e descobre que ele é outra pessoa, na realidade um estelionatário procurado internacionalmente por fraude milionária. Gostei bastante também quando Mallinson põe em dúvida a certeza de Conway, que acredita totalmente no que lhe disse Chang e o Lama Superior. Outra passagem que me surpreendeu foi quando Conway descobre que o Lama Superior é, na verdade, o mesmo padre Perraut, o belga que fundou o mosteiro de Sangri-La  em meados de 1700, e que tem, portanto, quase 200 anos de idade. Voltei várias vezes a leitura páginas antes para me certificar.

Jeosa: Algum cenário descrito  marcou?

Uli: A descrição do monte Karakal é muito bonita, do mosteiro,  também as piscinas de lótus.



Lost Horizon, 1937.
Direção: Frank Capra. Roteiro:  do próprio James Hilton.

Jeosa: Além de Conway, algum outro personagem o atraiu?

Uli: Barnard.

Jeosa: Conseguiu acompanhar a trajetória no espaço de Conway e dos outros sequestrados que vão parar no vale da Lua?

Uli: Sim. O avião parte de Peshawar, na índia (hoje  Pasquistão) e vai parar no platô tibetano, na China após cruzar a própria cordilheira do Himalaia.

Jeosa: Você percebeu a luta entre valores que se expressa no romance?

Uli: Sim. Conway quer abandonar o mundo agidato em que vive, e ficar em Shangri-La, onde tudo é mais calmo. Dos outros sequestrados, o único que acaba querendo voltar à “civilização” é Mallinson. Os outros, mesmo Barnard, que pensou em roubar o ouro que encontrou no vale da Lua, refaz suas ideias e decide ficar em Sangri-La.

Jeosa: Quando a narrativa principal terminou e a outra parte da “moldura”, o último capítulo, reintroduziu Rutherfor, sentiu a mesma dificuldade de quando começou a leitura?

Uli: Não. Quando reapareceu Rutherford, já estava preparado, e o que ele disse no início se encaixou com o que disse no fim.

Jeosa: Quem é Conway?

Uli: Uma pessoa procurando motivação para viver.

Jeosa: Qual o período abrange as aventuras de Conway?

Uli: Entre a 1ª. e a 2ª. Guerra, por volta de 1930.

Jeosa: Que mensagem há no livro?

Uli: É um alerta às pessoas, para que as guerras sejam evitadas.

Jeosa: O que o atraiu no livro?

Uli: As discussões filosóficas. As personagens estão sempre pensando e discutindo suas ideias.

Jeosa: Gostou do livro?

Uli: Gostei.


Ulisses Azevedo Gonçalves, 14 anos, é estudante da ETEC Basilides de Godoy. Praticou por dois anos e meio Kung Fu,  é atualmente praticante de Muay Thai e escreve no blog da editora Nova Alexandria a coluna Jovem leitor todas as quartas-feiras.

Um comentário:

  1. Márlon Reis (Via Twiiter):
    Gostei muito! Parabéns para você é para o Uli! É a isso que me refiro.

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