terça-feira, 15 de julho de 2014

SP: Zona Leste - Sarau, Maracanã e Gaza

Por Escobar Franelas.

Parece incrível que, retomando um clichê recente mas que também já parece um tanto envelhecido – talvez pelas exaustivas repetições, o “a periferia agora é o centro” – realmente o caminho do consumo artístico tenha se tornado uma via de mão dupla, e em várias faixas de sentido. Ulalá!

Imaginar que o Sarau da Casa Amarela, ululante, vivo e regular em São Miguel faz mais de três anos, hoje permite-se receber poetas como Carlos Moreira, que, vindo de Rondônia, ofertou-nos de graça a graça de sua poesia farta e robusta ao público de toda a zona leste (incluo aí também o bairro Jardim Revista, na periferia de do município de Suzano), quando esteve por essas bandas em 2013 lançando seu icônico livro de poemas, “Cardume”. Imaginar mais, que agora são Adriane Garcia (poeta de Beagá) e Bianca Velloso (poeta de Santa Catarina), dois luminares que chegam por esses dias em São Miguel para transformar o lugar no núcleo poético por onde gravitará a fina flor da poesia que de melhor produz o país hoje – nossa! – quem poderia prever isso anos atrás?

Por anos a fio – décadas, séculos até... – nos acostumamos a tomar sempre o rumo do “centro”, o rolê tinha que ser na São João, na Paulista, na Faria Lima, na Aspicuelta. Tudo bem tudo bem tudo bem... Mas a grande sacada é que hoje o caminho pode ser o contrário, sair do porto seguro da zona sul para a zona leste é muito significativo pra evocar essa nova condição da portabilidade humana. Ou nos relacionamos todos, ou vamos todos virar inumanos, animais escondidos atrás de grades, câmeras e fitas de acesso vip no pulso.

Fato mesmo é que Adriane e Bianca chegam à Sampalândia por esses dias e na próxima sexta, sábado e domingo (18, 19 e 20 de julho) chegam nesse ex-rincão de taipas e agora de tijolinhos às vistas, andarão de metrô e trem, verão o Itaquerão agora sem os holofotes fíficos e, assevero, viverão intensamente essa epopéia pela Paulicéia cada dia mais desvairada, mais extensa, mais cosmopolita.

Aliás, falando em cosmopolitismo, parece incrível que passados apenas sete décadas da barbárie germânica contra os judeus e outras minorias (ciganos, negros, homosssexuais), hoje esses mesmos judeus – agora recuperados moral, social e militarmente pela mão apostólica estadunidense – judiam sem dó de palestinos desabrigados, numa briga de Sansão e Golias contra um diminuto Davi. Enquanto isso, os agora simpáticos alemães distribuem sorrisos e boas ações, fazendo com que a Copa das Copas não seja um mero exercício retórico, mas um fato declarado. Deste lado do Atlântico, lucramos nós, brasileiros, com um evento que quase chega a rivalizar ao nosso próprio carnaval em organização; lucraram eles, alemães, que souberam sincronizar à cada vitória uma empatia cada vez mais midiática. Os prejuízos (semrpe há prejudicados), estão ali, agora, prostrados, na Faixa de Gaza, onde não há espetáculo, não há fruição, não há gozo...

De um lado, sarau; de outro, a vida animal! Entre os dois, a final. Eita mundo doido, cada vez mais paradoxal!

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