
Discorro,
nesta coluna, sobre uma aula na Sala de leitura, reservada ao empréstimo de
livros e à leitura livre na sala. Alguns estudantes tomaram contato com uma das
muitas histórias do ratinho “Filipe”, no caso o livro Filipe faz uma experiência (1987), editado pela Martins Fontes.
Algumas
crianças, pois o público dessa aula foi a turma do 4º ano, vieram à minha mesa
boquiabertos com a história do Filipe, do livro já citado. Diziam que o ratinho
“FU-MA-VA!!!”. Mostraram-me que ele, o rato, tinha uma moeda nas mãos, comprou
cigarro e FUMOU!!! (Foi assim que eles se expressaram).
A
surpresa não era a de um rato fumar. Não, o problema não estava com o rato, mas
com o fato de alguém, algum ser vivo, fumar.
Lembrei,
então, de meu contexto histórico, na época dos meus 10 anos, estudando no 4º
ano, ano de 1991. Naquele período, ainda eram televisionadas as propagandas de
cigarro, então, para minhas reflexões leitoras, o fato de alguém fumar não me
chocaria como chocou essas crianças, nascidas no início do século XXI. Afinal,
todos fumavam, assim era a vida na minha cabeça.
Quero
dizer com tudo isso que é perceptível a força que a TV tem sobre seus
telespectadores, portanto, leitores. Daí, é possível compreender a potência que
um discurso televisionado em horário nobre, por uma âncora de um jornal,
digamos “famoso”, tem.
Quando
Rachel Sheherazade “aplaude de pé”, meses atrás, a atitude de uma suposta
vítima de um assalto, no Rio de Janeiro, que para se vingar, amarra no poste e
espanca o “assaltante” (pelo menos, foi essa a notícia informada); e meses
depois, para ser mais assertiva, dia 3 de maio deste ano, uma mulher é linchada
e morre (não, não vou citar o motivo, porque independente de a vítima do
linchamento ser ou não inocente, isso é só mais um peso sobre o horroroso
episódio, o que devemos discutir é a violência do linchamento), fica impossível
não perceber a ponte formada entre o discurso irresponsável de uma jornalista e
a atitude impensada, violenta e, portanto, maldosa de uma turba sem educação,
de fato, pois se trata de gente educada pela TV.
Bem,
afirmo que os discursos televisionados têm uma grande influência na
interpretação da vida dos leitores de livros, de telas de TV, por fim, leitores
da vida. Basta ver as crianças da Sala de leitura em que trabalho: elas ficaram
estupefatas com um ser fumando, por conta do contexto sócio-histórico que as
rodeia.
Assim,
finalizo me questionando e propondo esta reflexão: e quanto ao ato de linchar alguém
até a morte? É normal? Roubou, sequestrou, matou etc., lincha até a morte?
E
como sempre: viva a boa literatura!

0 comentários:
Postar um comentário